São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 1995 |
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RSC aproveita a violência "Henrique 5º" NELSON DE SÁ
O sucesso deste início de temporada de outono na RSC, um ``Henrique 5º", espelha bem aquilo em que se transformou o culto a Shakespeare no país. Deixando de lado um Pistol interpretado com genialidade por Clive Wood, reunindo ao mesmo tempo violência e covardia, em cenas de aberto mas perigoso humor, o espetáculo é de uma grandiosidade, de um profissionalismo, de um perfeccionismo inteiramente hollywoodianos. Iain Glen, que faz Henrique e chegou a ser saudado como a maior revelação da RSC em anos, é um ator vigoroso, capaz de transformar o seu personagem na encarnação do nacionalismo que muitos vêem como a marca do personagem e da peça. O que apresenta em cena são as glórias, as paixões, as piadas de colegas em armas. A masculinidade é levada ao limite, até o ponto em que lembra o seu oposto. Guerra, neste ``Henrique 5º", surge como sinônimo da própria glória, como o foi por tanto tempo em países imperiais, de grandes exércitos como a Inglaterra. As cenas de batalha são de tal violência, com dezenas de soldados batendo-se assustadoramente, sangue por todo lado, pescoços sendo cortados, que deixam para trás a crueza já então excessiva do filme de Kenneth Branagh. Este novo ``Henrique 5º", que aproveita uma onda de peças análogas nos palcos londrinos nos últimos anos, mostra o outro lado da estetização da violência. Um lado menos voltado para a compaixão ou denúncia (como em ``Mojo", que saiu há pouco de cartaz) e mais para a exaltação da violência (como no ``Coriolano" da mesma RSC). (NS) Texto Anterior: Sttopard vende passagem à Índia Próximo Texto: Teatro germânico estréia no Brasil pelo Sul Índice |
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