São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 1995
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Walters procura o ridículo do cinema

MARCELO REZENDE; INÁCIO ARAUJO
DA REPORTAGEM LOCAL

Se pudéssemos colocar de lado o histórico do diretor John Walters, um cineasta que se caracterizou pela escatologia e pelo kitsch, restaria em ``Cry Baby" (Globo, 1h30), ao menos, a tentativa da realização de um gênero quase morto para o cinema: o musical.
Geralmente visto como uma concessão ao grande público -algo em tudo diferente de ``Hairspray" ou ``Pink Flamingos", seus filmes anteriores-, ``Cry Baby" foge da mera zombaria, algo tão comum nos trabalhos de Walters.
Seu desejo nesse filme, talvez pela primeira vez, é a de realizar o humor. E para isso se utiliza de uma criação típica do cinema americano: as histórias regidas por canções.
O filme é, então, um musical. E, assim, em nada difere dos outros que o precederam, mantendo intocadas algumas características desse tipo de filme.
Há em ``Cry Baby" também uma história de amor e um toque de ridículo que sempre prefiguraram um gênero que se realiza a partir de um estatuto básico: a existência de um universo que é orientado pela fantasia.
Mas a habilidade de Walters é utilizar esse mesmo estatuto, que hoje parece ser antigo, que quase beira o arcaico, para dele extrair o inusitado que faz a diversão.
Em sua fantasia, seus personagens são parte de um tempo que não existe e se movimentam em um espaço que não é lugar algum.
Mas Walters não é Stanley Donnen, que tratava seus personagens, como em ``Cantando na Chuva", com docilidade. Suas danças e canções se aproximam muito de um desejo de crueldade.
Ao contrário do que se imagina, não há qualquer forma de contenção em ``Cry Baby", nem no amor ao bizarro que faz a graça de seu diretor.
(Marcelo Rezende)

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