São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 1995 |
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``Négrabox" explora distorção da realidade
MÔNICA RODRIGUES COSTA
``Négrabox" foi exibido na semana passada no Pátio do Colégio, centro de São Paulo. Ainda que tenha levado alegria ao Pátio do Colégio, ``Négrabox" é uma peformance pesada, provoca certa irritação no espectador. Os quatro integrantes do grupo executam ações repetitivas ao som de batidas ritmadas de portas e janelas de uma imensa caixa-preta, de quase cinco metros de altura. Não há diálogos. A comunicação com o público é gestual, e o ponto forte dela são as expressões faciais dos atores. Eles nunca sorriem. Há momentos em que esses palhaços, vestidos de branco e preto, se mostram extenuados, com a sequência de suas ações. A emoção, a catarse que ``Négrabox" provoca é a resposta à curiosidade. Os atores prendem a atenção introduzindo elementos novos nas diferentes janelas assimétricas de sua caixa de surpresas. Funciona como uma caixa-preta de avião depois do desastre. A cada nova cena, os atores revelam novas informações, novos ângulos de visão de corpos fragmentados. Às vezes, apenas braços e mãos se movimentam nas pequenas janelas. Em outros momentos, pernas e sapatos explodem da caixa, em batidas percussivas. E muitas cabeças de homens carecas usando óculos. As figuras humanas funcionam como metáfora de perda da identidade. Os estranhos personagens ainda recuperam força, saem da caixa e se misturam ao público, como se procurassem alguma coisa. Transformam-se numa polícia cômica, que apita ao vazio, entre a multidão aglomerada ao redor de um monumento inútil. Soldados marcham, invertem suas posições naturais, batem os capacetes um contra o outro. Trata-se de uma realidade distorcida, aterrorizante, alterada por uma humanidade excessivamente automatizada. Texto Anterior: Karen Finley faz as últimas apresentações Próximo Texto: `Você Decide' devia ir além do sim ou não Índice |
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