São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 1995 |
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Frederica Von Stade se diverte com drama
LUÍS ANTÔNIO GIRON
Quando: hoje e quarta, às 21h Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 011/222-8698 Quanto: de R$ 10 a R$ 60; ingressos a domicílio pelo tel. 011/579-8202 A soprano norte-americana Frederica Von Stade, 45, canta pela primeira vez no Brasil hoje e quarta-feira, no Teatro Municipal. Apresenta-se acompanhada pelo pianista norte-americano Martin Katz, que trabalha com ela há 20 anos. Frederica é uma das principais divas de seu naipe, celebrada nos anos 70 por causa dos papéis leves. Hoje, porém, com a chegada da idade, Frederica diz se dedicar a papéis mais dramáticos, sobretudo em música contemporânea. ``Fiquei mais velha e ficaria ridículo eu fazer papéis de Rosina, Angelina, Despina e outras heroínas do bel canto", comenta a cantora em entrevista à Folha, por telefone, de Buenos Aires, concedida na última quarta-feira. Mas a maturidade, jura, tem suas vantagens. Hoje ela afirma que ``se diverte" com papéis dramáticos. ``Adoro estar em palco porque isso enriquece minha sensibilidade." O repertório dos dois recitais de São Paulo é o mesmo. Conta que foi montado a partir de pedidos dos patrocinadores, os patronos do Teatro Municipal. É tão amplo quanto a história da música dos últimos três séculos. Frederica acena com uma noite de maratona lírica. Interpreta de árias barrocas do napolitano Alessandro Scarlatti (1660-1725) a canções do norte-americano Charles Ives (1874-1954). Ainda encontra fôlego para arriscar quatro lieder do alemão Richard Strauss (1864-1949), canções do espanhol Enrique Granados (1867-1916), a ``Habanera", da ``Carmen", do francês Georges Bizet (1838-1875), duas árias do italiano Gioachino Rossini (1792-1868). Como se não bastasse, fecha a noite com uma cançoneta, ``Ah! que j'aime les Militaires", do francês Jacques Offenbach (1819-1880). ``Não é o tipo de programa que eu costumo fazer atualmente", afirma. Nascida em Los Angeles e moradora de San Francisco, Frederica tem se ocupado com produções contemporâneas da Ópera de San Francisco (dirigida pelo maestro escocês Donald Runnicles). ``Estou gostando cada vez mais de música contemporânea", diz. A afirmação soa forte quando vem de uma artista talhada no tradicionalismo e presença destacada no Metropolitan Opera House, La Scala, Covent Garden e Ópera de Viena. ``Os autores contemporâenos redescobriram a melodia, o lirismo e sabem usar a voz." Cita o conterrâneo Domenick Argento, cuja ópera ``The Aspern Papers" ela estrelou em Dallas no último ano. Entre os modernos, Frederica salva da fogueira da insensibilidade mestres como Ives e Virgil Thompson. ``Parece que os modernos se esqueceram do funcionamento da voz na música. Cantar o repertório do século 20 é um sacrifício vocal." Com 40 discos lançados, a mezzo-soprano está feliz porque seu último CD, dedicado à obra de Offenbach, será lançado no Brasil neste mês. ``Apesar de sua fama cômica, Offenbach é um compositor muito sofisticado. O próprio Wagner estudou suas orquestrações no início da carreira." Ela diz gostar tanto de gravar quanto de cantar ao vivo: ``Não tenho problemas nesse aspecto. Às vezes é chato, mas o resultado compensa." Está gravando canções populares e uma obra para voz e orquestra do compositor Leonard Bernstein, cujo título não recorda. ``Gravar faz parte das novas exigências da indústria da música. A corrida ao lucro é algo a que nós, artistas, temos que nos acostumar." Até o fim do ano, Frederica faz uma turnê pelos EUA. Em novembro, estará no Carnegie Hall de Nova York. Texto Anterior: Ex-Prince não resiste ao próprio fim e prova talento em novo disco Índice |
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