São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 1995
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Ex-Prince não resiste ao próprio fim e prova talento em novo disco

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

Prince está morto. Acaba de ser lançado lá fora -no Brasil, deve sair nas próximas semanas- o primeiro disco do cantor, compositor e multiinstrumentista norte-americano assinado com o símbolo irreproduzível e impronunciável que ele resolveu adotar como nome.
O disco se chama ``The Gold Experience". Entre a primeira e a segunda faixa, uma voz feminina em bom espanhol enfatiza: ``Prince está muerto. Que viva para siempre la nueva geración". O velho e majestático nome não é mais citado no disco -e, seja feita vossa vontade, não o será aqui também.
Ou seja, a dúvida persistirá. Lá pelas tantas, em ``Shhh", ele pergunta: ``What's my name, baby?", e uma voz feminina responde: ``I love you". Pode-se imaginar a imagem do símbolo e de um ponto de interrogação impressas no cérebro e no rosto da mocinha.
A questão é: o que a troca -tão propalada e tão protelada- muda na carreira dele? ``The Gold Experience" ajuda na especulação.
O disco lembra, em muitos aspectos, o artista em seus anos 1982-1984, ou seja, a época dos primeiros hits (``1999" e ``Little Red Corvette", de 1982) até a explosão comercial de ``Purple Rain" (o filme, o disco e a música, de 1984).
Por outras palavras, evita a complexidade e os maneirismos que caracterizaram, em altos e baixos, seus trabalhos de ``Sign`o'the Times" (1987), seu melhor disco até hoje.
O homem-símbolo parece querer deixar para trás a ânsia de experimentador multimusical, voltar à fase pré-estrelato, e o faz buscando certa simplicidade.
``The Gold Experience" é pop, quase rock. Abundam refrões, baladas e baladonas, coros de todos-juntos (``We March"), flertes com a música-tema de ``Ases Indomáveis" (na balada balançada ``Shy") e com anúncio de cigarros Hollywood (em ``Endorphinmachine"), um épico detonador para encerrar (``Gold").

O Coisa e o Outro
À primeira audição, tudo soa repetitivo, relaxado, sem garra e sem novidade. Mas, se você consegue ter paciência e persistência e chegar à terceira...
O que vem à tona é uma enxurrada de funkões a distorcer Al Green, o ``Dolphin" (golfinho) dele curtindo com a cara da baleia ``Free Willy" do rival Michael Jackson, o pop-rap com melodia de ``Pussy Control", vocais languidamente poderosos do ?, baladas e baladas e baladas.
Tudo é relativamente simples, em se tratando do Coisa e de coisas que ele já fez. Traz a interrogação: onde foi parar a sofisticação daqueles sons que ele inventava e que pareciam nunca ter sido ouvidos antes? Será o Coisa simples simplificação do outro?
Não, as coisas não são assim tão simples. Quem toma como modelos -e cria por cima e adultera- figuras como George Clinton e seu Funkadelic, Stevie Wonder, Sly Stone, Al Green e Marvin Gaye nunca fica -mesmo que queira, como é o caso- cafona ou simplificado.
Muito menos se se trata de alguém que já é o que é desde que é, como é o caso de, com o perdão do palavrão, Prince.

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