São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 1995
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`Mundo de Sofia' vira fenômeno multimídia

JOSÉ GERALDO COUTO
DO ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT

O norueguês Jostein Gaarder veio à Feira do Livro de Frankfurt para promover as traduções de seu livro ``O Mistério das Cartas", que será lançado no Brasil em 96 pela Companhia das Letras.
Publicado na Noruega em 1990, um ano antes de ``O Mundo de Sofia", o livro está pegando uma carona no sucesso deste último, que já vendeu mais de 5 milhões de exemplares em 38 países (1,5 milhão só na Alemanha).
``O Mundo de Sofia" é um fenômeno multimídia. Foi transmitido como série radiofônica na Alemanha e agora vai virar minissérie de TV na Noruega e CD-ROM na Inglaterra. Os direitos de adaptação cinematográfica foram vendidos a uma produtora norueguesa.
Atordoado com o sucesso, Gaarder disse à Folha que só quer uma coisa: tempo para escrever.

Folha - Parece que aqui na Alemanha é onde ``O Mundo de Sofia" conquistou mais sucesso. A explicação seria o tradicional gosto alemão pela filosofia?
Gaarder - Em parte, sim. Mas a razão principal é que os alemães têm o costume de ler muito. Se na Espanha meu livro vendeu 200 mil exemplares, ele foi tão bem quanto na Alemanha, porque os espanhóis não lêem tanto.
Agora, claro que se trata de um livro europeu, sobre o pensamento europeu. E no livro eu falo muito sobre a tradição filosófica alemã. Talvez por isso os alemães tenham gostado tanto.
Folha - O sr. acredita que o interesse das pessoas por filosofia aumentou nos últimos anos?
Gaarder - Sem dúvida. Existe um renascimento da filosofia, e também do interesse pela história. Acho que isso tem a ver com o fim do milênio. As pessoas tendem a considerar mágicos os números redondos, como 2.000.
É como se elas se perguntassem: o que nós vamos levar deste século para o próximo? E na nossa sociedade pós-moderna, em que os meios eletrônicos nos permitem acesso imediato a toda informação, é cada vez mais importante ter uma base comum, uma plataforma comum, que é a cultura. Se não tivermos presente a tradição histórica, seremos como selvagens modernos na selva da cidade.
``O Mundo de Sofia" e outros livros do tipo chamam a atenção para nossa herança comum.
Folha - Como é ``O Mistério das Cartas"?
Gaarder - É uma história dentro da história, dentro da história, como uma boneca russa. Na história principal, um pai e seu filho de 14 anos viajam pela Europa procurando pela mãe do menino, que desapareceu muitos anos atrás. Na busca, eles chegam a Atenas, o garoto ouve algumas histórias sobre Sócrates. Mas não é um romance sobre a filosofia, como ``Sofia". É só um romance.
Folha - Também é um livro que foi escrito para jovens?
Gaarder - Sim, como ``O Mundo de Sofia". Acontece que ambos derrubaram o ``muro de Berlim" que parecia haver, pelo menos na Noruega, entre livros para adultos e para crianças.
Muitos livros na história da literatura cruzaram essa fronteira. "Alice no País das Maravilhas" e ``O Pequeno Príncipe" são para adultos ou para crianças? Recebo umas cem cartas por semana, do mundo inteiro, inclusive do Brasil, e a maioria é de adultos.
Folha - O sr. não teme se tornar um prisioneiro do sucesso?
Gaarder - Para falar a verdade, o que me preocupa é uma questão mais prática: conseguir tempo para voltar a escrever. Depois de ``O Mundo de Sofia", que é de 91, eu escrevi dois livros (``The Christmas Mystery" e ``Through a Glass, Darkly"), mas há quase dois anos não escrevo nada. Só viajo e dou entrevistas.
Folha - Sua vida pessoal mudou muito nos últimos anos?
Gaarder - Minha vida mudou dramaticamente, mas apenas no sentido prático. Minha cabeça não foi afetada por isso. Mas eu espero voltar a ter uma vida mais tranquila.

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