São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 1995
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Hanif Kureishi adapta conto para BBC

JOSÉ GERALDO COUTO
DO ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT

Hanif Kureishi, o autor de ``O Buda do Subúrbio" e roteirista de ``Minha Adorável Lavanderia", passou agitado como um ``popstar" pela Feira do Livro de Frankfurt para divulgar a edição alemã de seu novo romance, ``The Black Album".
No livro, um jovem descendente de paquistaneses vai estudar em Londres e se apaixona por uma professora de literatura que toca Prince e Jimi Hendrix em suas aulas. Ao mesmo tempo, ele se vê envolvido com as atividades ilegais do irmão gângster e com estranhos imigrantes paquistaneses.
Kureishi, que já dirigiu um longa-metragem, ``London Kills Me", e teve seu ``O Buda do Subúrbio" transformado em minissérie, está adaptando um conto seu, ``My Son the Fanatic", para um telefilme da BBC. Prepara também um livro de contos, a ser lançado no ano que vem na Inglaterra com o título ``In a Blue Time".
Prevendo que o falatório à sua volta no estande da editora alemã Kindler pudesse prejudicar a gravação da entrevista, Kureishi brincou: ``Se você não conseguir ouvir direito, invente. As entrevistas inventadas são as melhores".
Folha - Por que você situou seu novo romance em 1989?
Kureishi - Porque foi um ano muito significativo para a Europa em muitos sentidos. Foi o ano da ``fatwah" contra Salman Rushdie, foi o ano em que o Muro de Berlim caiu, foi o ano do fim do thatcherismo, e também o ano que anunciou a década de 90. Misturei todas essas coisas no livro para atingir certos efeitos.
Folha - Até que ponto o personagem principal, Shahid, é autobiográfico?
Kureishi - Suponho que tudo que eu escrevo vem da minha própria vida. Todos vêm daí, misturados com minha imaginação e com outras pessoas que eu conheço. Shahid é um escritor, veio de Kent como eu, mas ao contrário dele eu nunca fui atraído pela religião.
Folha - Você co-editou (com Jon Savage) ``The Faber Book of Pop", e a cultura pop tem um papel importante em sua obra. Você tenta fazer uma combinação entre a cultura pop e a literária, como sua personagem, a professora Deedee Osgood, faz em suas aulas?
Kureishi - Bem, eu fui criado com música pop. Cresci nos anos 60. A música pop era a cultura comum da minha geração, no mundo inteiro: Dylan, Stones, Jimi Hendrix. A cultura pop, com tudo que a acompanha -a política, as drogas, a paixão-, sempre me interessou. Colocá-la na literatura era muito natural para mim. Seria muito mais difícil deixá-la de fora.
Folha - Dá muito trabalho a você fazer com que seus romances pareçam tão naturais e espontâneos?
Kureishi - Eu me sinto lisonjeado ao ouvir isso, porque tenho muito trabalho para fazer meus livros divertidos, engraçados, gostosos de ler. Esse é o tipo de livro que eu próprio gosto de ler.
Folha - Que autores você mais gosta de ler?
Kureishi - Eu leio de tudo. Autores russos, franceses, americanos, latino-americanos (Garcia Márquez, Vargas Llosa, Borges). Fiz um bocado de leituras na minha vida. De certa forma, ``The Black Album" é um livro sobre livros, sobre o valor da leitura.
Folha - Fale um pouco sobre o filme ``My Son the Fanatic".
Kureishi - É a história de um taxista cujo filho se torna um fundamentalista. É sobre o conflito entre essas duas gerações, e é escrito do ponto de vista do pai.

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