São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 1995
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Marcha reúne 1 milhão de negros hoje em Washington

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O líder da entidade Nação de Islã, Louis Farrakhan, cancelou todos os seus compromissos na véspera da Marcha de 1 Milhão de Negros, o mais importante evento de sua carreira política.
Assessores disseram que ele está ``exausto", mas não doente. Farrakhan tinha entrevistas marcadas em três redes nacionais de televisão ontem e não compareceu a nenhuma delas.
A polícia de Washington continua estimando em cerca de 500 mil o número de pessoas que deverão participar da marcha de hoje. A maior manifestação política da história da cidade, em 1969, contra a Guerra do Vietnã, reuniu 600 mil pessoas.
O presidente dos EUA, Bill Clinton, que como outros líderes do ``establishment" político, diz apoiar os objetivos da marcha, mas não seu organizador, vai fazer hoje discurso sobre relações raciais nos Estados Unidos.
A marcha tem como objetivo principal, segundo Farrakhan, aumentar o nível de responsabilidade dos negros do país.
Outros líderes negros que endossam a marcha, como o reverendo Jesse Jackson e o ex-presidente da Associação Nacional de Pessoas de Cor, Benjamin Chavis, negaram a possibilidade de apoiar a manifestação sem apoiar também Farrakhan.
Louis Farrakhan, 62, é uma das mais controvertidas personalidades públicas dos EUA. Dono de retórica inflamada, ele costuma se referir a judeus e brancos em geral de maneira ofensiva.
Ao contrário do líder negro assassinado Martin Luther King, Jesse Jackson e outros líderes da comunidade negra americana, o discurso de Farrakhan não é inclusivo: ele não defende a integração dos negros na sociedade norte-americana.
Sua entidade, a Nação de Islã, tem cerca de cem mil filiados. Em várias cidades, como Chicago, ela assumiu a segurança de bairros com maioria de habitantes negros e conseguiu reduzir a taxa de criminalidade.
Farrakhan começou a se destacar na Nação de Islã como assessor de Malcolm X, líder negro radical também assassinado. Quando seu padrinho político deixou a organização, Farrakhan se manteve fiel a ela. Algumas pessoas o acusaram de ter mandado matar de Malcolm X.
A marcha de hoje é fechada para mulheres, exceto as que estarão no palco. Farrakhan quer que as mulheres negras fiquem em casa, preparando a infraestrutura para seus maridos e filhos.
Ele também pede a todos os negros que não gastem dinheiro em estabelecimentos comerciais pertencentes a brancos no dia de hoje.
Os negros são cerca de 12,5% da população dos EUA, cerca de 32,5 milhões de pessoas. Para atingir o objetivo de 1 milhão de homens negros na marcha, seria necessário mobilizar cerca de 10% do total de homens negros adultos.
Pesquisa de opinião pública realizada pelo Instituto Gallup na semana passada, mostrou que 54% dos homens negros adultos entrevistados não sabiam da organização da marcha, 30% diziam discordar dela, 5% concordavam, mas se diziam impossibilitados de comparecer e 11% manifestavam desejo de ir a Washington.
As relações entre brancos e negros nos EUA está particularmente tensa desde a absolvição, há duas semanas, do ator negro O. J. Simpson, acusado da morte de dois brancos.
A maioria dos brancos acha que O. J. Simpson foi absolvido por um júri de maioria negra por razões raciais.
Os brancos nos EUA são 74% da população total do país. Os hispânicos são 9,9% e os asiático-americanos são 3,5%.

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