São Paulo, terça-feira, 17 de outubro de 1995
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O soluço do monstro

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Investigadores do governo puxam a ponta de um novelo que pode conduzir à descoberta de mais uma quadrilha instalada nos cofres públicos. O grupo age em plena Receita Federal.
À primeira vista, o novo esquema parece portentoso: envolve da concessão de falsas certidões negativas de débito fiscal à evasão de divisas.
Em batida feita num escritório de advocacia de Brasília, há 9 dias, a Receita pôs a mão num suspeitíssimo lote de documentos: há formulários em branco de certidões negativas do Fisco e carimbos de reconhecimento de firma de cartórios da capital, também em branco.
Há ainda, entre os papéis, contratos firmados com empresas de vários Estados. Pelos contratos, o escritório comprometia-se a reduzir dívidas de firmas junto à Receita. Em troca, cobrava comissões.
O caso, entregue à Polícia Federal, começou a ser investigado a partir da descoberta de certidões falsas de duas grandes empresas: a Encol e a Varig. Embora devam à Receita, ambas possuíam documentos que diziam o contrário.
Em carta à Receita, a Encol tentou eximir-se de responsabilidades. Disse que a obtenção da certidão micada é de responsabilidade de outra empresa, contratada em sistema de terceirização. Conversa vai, conversa vem, chegou-se a um despachante que, interrogado, contou detalhes da operação.
Escaldada com o sumiço de processos contra a empresa do ex-deputado Paulo Octávio, a Receita vasculha seus arquivos para tentar detectar outros desaparecimentos. Suspeita-se que a quadrilha tenha entrado nos computadores do Fisco para apagar o rastro de processos. Algo que só poderia ser feito com a cumplicidade de funcionário da Receita.
Em fase recente, os escândalos no Brasil saltavam dos porões do governo como pãezinhos do forno de uma padaria. Com Collor em Miami e João Alves no limbo, houve aparente calmaria.
A imprensa já não serve ao brasileiro um caso quentinho de roubalheira a cada café da manhã. Mas o interminável escândalo da Previdência e o mal cheiro que exala dos porões da Receita demonstram que a fornalha em que cresce a massa da corrupção não foi desativada. Longe disso.

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