São Paulo, quarta-feira, 18 de outubro de 1995
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Medo de derrota faz governo adiar votação

DANIELA PINHEIRO; GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O PFL e o PMDB fracassaram na tentativa de conseguir votos para aprovar a reforma administrativa na Câmara e decidiram pedir ao presidente Fernando Henrique a retirada do artigo que permite a demissão de servidores considerados excedentes.
O presidente recusou o pedido. "Quem pediu que eu fosse às praças públicas fazer uma campanha para fazer a reforma foram os partidos que me apoiaram. Isso não é uma idéia minha", afirmou à imprensa.
Segundo ele, o Congresso "assumirá as responsabilidades perante o país das decisões que tomar".
A votação da emenda deveria ter ocorrido ontem na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara, mas foi adiada depois de os líderes governistas constatarem que poderiam ser derrotados.
Logo pela manhã, o líder pefelista na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), contabilizava quatro dissidências no bloco PFL-PTB. O líder do PMDB, Michel Temer (SP), afirmava que cinco deputados da legenda votariam contra.
O governo precisa de 26 dos 51 votos da comissão para aprovar a proposta que acaba com a estabilidade no emprego dos servidores. Inocêncio e Temer concluíram que somente 22 deputados se dispunham a votar a favor.
Inocêncio tentou durante todo o dia reverter os votos dos "rebeldes". Realizou sete reuniões. Para ele, era fundamental mostrar a unidade do partido -a coesão dos pefelistas sempre foi o maior trunfo da legenda junto ao governo.
O líder pefelista chegou a prometer aos dissidentes que faria um discurso na CCJ se comprometendo a aprovar na comissão especial -próxima etapa da emenda, caso ela seja aprovada na CCJ- "salvaguardas" que impediriam que os governantes se utilizassem da demissão por excesso de quadro para afastar adversários políticos.
Não adiantou. O presidente da CCJ, deputado Roberto Magalhães (PFL-PE), e os deputados Régis de Oliveira (PFL-SP), Bonifácio de Andrada (PTB-MG) e Vicente Cascione (PTB-SP) permaneceram irredutíveis em sua posição de votar contra.
Magalhães não escondeu seus motivos. Candidato à Prefeitura de Recife, não quer assumir o ônus eleitoral de votar pelo fim da estabilidade.
Cascione não confirma, mas a Folha apurou que ele quer se candidatar a prefeito de Santos.
Nem mesmo um telefonema do secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge Caldas, demoveu Cascione. "Não estamos aqui para resolver problemas que o próprio governo criou", disse.
Temer nem chegou a procurar os peemedebistas dissidentes. Desde anteontem, ele defendia que fosse retirado o artigo que permite a demissão por excesso de quadro.

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