São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 1995
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Tráfico usa falso turista europeu

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Falsos turistas europeus estão trabalhando para as quadrilhas internacionais de tráfico de drogas, transportando cocaína do Rio, por avião, para os países consumidores na Europa.
Só este ano, a Polícia Federal no Rio já apreendeu no Aeroporto Internacional 110 kg de cocaína. Foram presos 33 estrangeiros, 22 deles europeus, tentando embarcar com a droga.
Os turistas ocupam o papel que a própria polícia e as quadrilhas chamam de "mulas": pessoas que enfrentam o risco de viajar com a droga e, quase sempre, são presas primeiro. Os europeus têm a vantagem de poder entrar em seus países de origem passando por uma fiscalização menor.
"Usar europeus é a nova estratégia das quadrilhas. Os nigerianos, por exemplo, já estão conhecidos pela polícia e atraem mais suspeitas", afirmou o superintendente da PF no Rio, delegado Jairo Kullmann.
Segundo dados da PF, três grandes quadrilhas internacionais controlam o envio de cocaína pelo Rio: a conexão africana, a conexão russa e o cartel colombiano, além de pequenos grupos dos EUA.
A conexão africana é uma expansão do grupo formado há cinco anos por nigerianos para coordenar o envio de droga do Brasil para o mercado consumidor europeu. Hoje tem ramificações em Gana, África do Sul, Libéria e Angola.
Inicialmente a droga passava pela África e de lá ia para a Europa. A participação dos turistas europeus elimina as escalas na África e diversifica a entrega.
A conexão russa surgiu com o fortalecimento do crime organizado nos países da ex-União Soviética. Atua junto com o grupo africano e distribui droga para os países da Europa Oriental, como Rússia, Ucrânia e República Tcheca.
O cartel colombiano usa latino-americanos e espanhóis para transportar a droga. Na PF há seis espanhóis, dois chilenos e um colombiano presos este ano, tentando embarcar com cocaína.
Entre as "mulas" estrangeiras presas na PF estão oito ingleses, dois holandeses, dois italianos, dois alemães, uma ucraniana, dois norte-americanos, um canadense e cinco africanos. Um inglês fugiu.
Juntos, esses estrangeiros somam um terço dos presos sob custódia na PF e superam em número os brasileiros flagrados com cocaína. Aguardam na custódia o julgamento e a sentença judicial.

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