São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 1995
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Rebelião no Carandiru deixa um ferido

DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupo de cem detentos do pavilhão 9 da Casa de Detenção de São Paulo (zona norte) se rebelou ontem à tarde e manteve por duas horas e meia 15 funcionários do presídio como reféns. Um refém teria sido ferido pelos presos.
Essa é a primeira rebelião no pavilhão 9 desde que, em 2 de outubro de 1992, uma briga entre detentos terminou no massacre de 111 presos feito pela tropa de choque da PM.
Segundo o diretor da Coespe (Coordenadoria dos Estabelecimentos Penitenciários do Estado de São Paulo), Lourival Gomes, 45, o motivo da rebelião foi a apreensão de cerca de 20 pedras de crack em uma revista.
Segundo ele, um refém ficou ferido e foi levado para um pronto-socorro. A Secretaria da Administração Penitenciária informou que um outro agente foi agredido pelos presos, mas não ficou ferido.
A revista começou por volta das 14h. Ela estava sendo feita por 25 funcionários que trabalham no pavilhão. Ao encontrarem o entorpecente, segundo o diretor da Coespe, os agentes foram abordados por um preso.
Esse detento teria tentado subornar os agentes para que seu companheiro não fosse autuado em flagrante sob a acusação de tráfico de drogas. "Como eles se recusaram a receber a propina, um grupo 40 presos cercou e rendeu os agentes", disse Gomes.
Os 15 reféns foram levados para uma cela no térreo. Os presos quebraram a sala dos carcereiros e a do chefe do pavilhão 9. Os outros agentes que estavam no pavilhão conseguiram escapar.
A direção do presídio negociou com os presos a fim de que os reféns fossem libertados. O diretor da Coespe não informou que acordo foi feito para terminar a rebelião e disse que será apurado como a droga entrou no presídio.

Alimentos
Segundo Paulo Gilberto de Araújo, 42, diretor do sindicato dos agentes penitenciários do Estado, a rebelião também teria sido motivada pela diminuição da quantidade de comida dos presos.
"Há dois meses os presos não recebem a quantidade normal de leite, manteiga, pão e carne. Isso vem aumentando a pressão no presídio", afirmou o diretor do sindicato.
O diretor da Coespe afirmou, ao deixar a Casa de Detenção, que a corregedoria da Secretaria da Administração Penitenciária irá investigar a diminuição da alimentação dos presos.
"Isso não deveria acontecer, pois cada preso tem uma quantidade certa de alimentos para receber e o Estado está entregando essa quantidade", afirmou. Segundo Gomes, só pode ter havido diminuição da alimentação dos presos caso a comida tenha sido desviada.

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