São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Neoliberalismo x ação do Estado
MARIA ANGÉLICA BORGES Qual o tamanho que o Estado deve ter e até onde deve limitar-se a sua ação direta na prestação de serviços ao cidadão, aí incluído o controle da economia?Esse debate atual entre os economistas de matriz neoliberal -que defendem um Estado mínimo na sua relação com a sociedade civil- e aqueles que acreditam na ação do governo como racionalizador da vida econômica do país nasceu com o desenvolvimento da economia brasileira, marcadamente a partir da gênese da industrialização. O surgimento do curso de economia em uma instituição pública, nascido com o decreto-lei 7.988, de 22 de setembro de 1945, está inserido nesse contexto de crescimento econômico e representou uma vitória da vertente neoliberal, encabeçada pelo professor Eugênio Gudin. Em carta enviada de Chicago, quando voltava da conferência de Bretton Woods -que reorganizou o sistema econômico internacional no pós-guerra-, o professor Gudin relatou a Gustavo Capanema, então ministro da Educação do governo Vargas, o resultado da discussão que ele e seu amigo Octávio Gouveia de Bulhões haviam tido com os professores da Universidade de Harvard. Com o aval dos professores de um dos mais renomados centros mundiais de pesquisa em economia, que acharam excelente o anteprojeto que lhes fora apresentado, o autodidata Gudin fez com que o primeiro curso de economia da cidade do Rio de Janeiro -que funcionava numa instituição privada desde 1934- fosse incorporado à Universidade do Brasil, hoje Federal do Rio de Janeiro. O mestre dos economistas liberais conseguiu, com isso, reforçar um velho ponto de vista em cima de uma disputa que se iniciara já no começo da era Vargas: criar um curso de economia desvinculado do curso de administração. Contemporânea ao nascimento da estrutura oficial do curso de economia, havia no país a famosa controvérsia Eugênio Gudin x Roberto Simonsen, ou neoliberalismo x protecionismo. Tal embate envolvia as diferentes visões acerca da inserção da economia brasileira no cenário econômico mundial. Os neoliberais defendiam a forma homogênea, subordinada ao capital internacional. Posição consubstanciada na defesa de uma economia natural de mercado -o capitalismo naturalista-, que era a visão do professor Gudin. Visão, aliás, que o acompanhou por uma vida centenária e que ele procurou imprimir aos cursos de economia. A posição de Roberto Simonsen -identificada com os nacionalistas de diferentes nuanças- defendia a integração com o mercado externo, respeitando a autonomia econômica do país. Os herdeiros da visão simonseana foram os cepalinos, com destaque para a figura singular de Celso Furtado. Aliás, esse debate permaneceu ao longo da história econômica brasileira. Roberto Campos, ao se referir a ele, considera Gudin o grande vitorioso no longo prazo, em função da crescente influência neoliberal, a partir dos anos 80, como resposta à crise estrutural do capitalismo e ao desmoronamento do socialismo real. Porém os problemas da economia mundial e brasileira permanecem, assim como a disputa pela linha que conduzirá às suas soluções. Esse é, na verdade, o cerne do atual debate econômico. Surgido na metade do século, ele se mantém até hoje -quando comemoramos o cinquentenário do reconhecimento oficial do curso de economia- por intermédio das diferentes linhas teóricas que compreendem o estudo econômico, dentro e fora da universidade. Texto Anterior: Lados esquecidos do parecer Prisco Viana Próximo Texto: Estudo analisa futuro de países emergentes Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |