São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 1995
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Árbitro de futebol precisa ser profissão

CLÁUDIO CERDEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

As novas denúncias sobre arbitragem me pegaram de surpresa.
Em primeiro lugar, alguma providência tem que ser tomada para a apuração dos fatos e para que os responsáveis sejam punidos.
É preciso ressaltar que, às vezes, existem intermediários que falam uma coisa e, na verdade, os árbitros não têm nada a ver, tomam bola nas costas.
É preciso conhecer a situação da arbitragem.
Árbitro de futebol não é uma profissão reconhecida, o que favorece as pressões.
A maioria dos árbitros desempenha outras atividades. Na arbitragem, só se ganha quando se apita. Se não apita, não ganha.
Árbitro de futebol precisa ser profissão. No futebol, a pior situação é a dele. É mal remunerado, insultado, desmoralizado.
Se a profissão fosse reconhecida legalmente, regulamentada e remunerada, muitas tentativas de pressão deixariam de existir.
Basicamente, arbitragem é uma atividade amadora no Brasil.
Compare-se árbitro e jogador de futebol. Jogador é uma profissão reconhecida. Árbitro, não.
Jogador recebe salário. Árbitro, não.
Jogador recebe direito de arena. O árbitro, que aparece na tela da TV, não.
Os jogadores têm assistência médica, odontológica, preparação física, treinamento em tempo integral.
Os clubes oferecem centros de treinamento, nutricionistas, psicólogos.
Os jogadores têm estrutura para ter um bom desempenho profissional.
Com o árbitro é diferente. Se precisa ir ao dentista, se tem um problema muscular, se vai ao médico, o árbitro paga do próprio bolso. Se precisa da ajuda de um psicólogo, o árbitro é quem paga.
Para se preparar fisicamente, procurando uma academia ou um preparador físico, o árbitro é quem paga.
O uniforme do jogador é fornecido pelo clube.
O árbitro tem que comprar seu próprio uniforme: seis camisas de cores diferentes, apito, cartões amarelo e vermelho, bermuda, chuteira etc. O árbitro tem que pagar tudo.
Os atletas de futebol viajam para o local dos jogos com um dia de antecedência e ficam em hotéis quatro, cinco estrelas.
O árbitro fica num hotel de uma estrela, que é o que a diária permite pagar.
Esse quadro não justifica problemas como os que estão sendo denunciados a partir de São Paulo.
É preciso valorizar a formação moral e ética. Isso é, na verdade, o mais importante.

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