São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 1995
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Stevie Wonder desconcerta até os jazzófilos

SÉRGIO AUGUSTO
DA SUCURSAL DO RIO

Precedido por aquele coral negro que abriu os jogos da última Copa do Mundo, The Sounds of Blackness -cuja única novidade foi, paradoxalmente, uma homenagem a quatro relíquias do R&B e da soul music (Sly and the Family Stone, Aretha Franklin, Sam and Dave e James Brown)-, Stevie Wonder repetiu mais ou menos o show com que percorreu a América nove meses atrás.
Não abusou do atraso, como é de seu costume, e cantou sem parar durante duas horas e meia, acompanhado por uma banda preparada para qualquer ritmo e um grupo vocal que até tem nome (For Real e não Wonderettes, como alguns engraçadinhos podem pensar) e uma integrante (a da direita) de fechar o comércio.
Como já se tornou um hábito, trouxe dos bastidores as primeiras frases de seu tema de abertura: "Dancing To the Rhythm of Your Love", ainda inédita em disco. Os cumprimentos e as gracinhas de praxe em portinglês ficaram para o exórdio do segundo número, "Bird of Beauty", adrede movido a batucada. No quarto ("Masterblaster"), a primeira convocação à cumplicidade rítmica e vocal do auditório. Mas a primeira combustão para valer se deu com "Rocket Love". A partir dali, a platéia passou a comer na mão do cantor.
Agradecido, Wonder a premiou com uma de suas jóias mais reluzentes ("Ribbon in the Sky") e, antes de engrenar "Fever", tirou do baú o indefectível "Você Abusou", recuperando-se a seguir com a lavra de outro Antonio Carlos, o Jobim. Quando canta, Wonder empina o queixo e faz pequenos e rápidos meneios com a cabeça, como se estivesse tentando botar para fora algumas notas soltas na garganta e nos ouvidos. É um manancial de sons, ritmo, harmonia e palavras que exaltam emoções afetuosas. Seu prazer em compor, cantar e tocar desconcerta até os jazzófilos xiitas. Vi dois ou três deles sacudindo-se alegremente ao som de "I Just Called To Say I Love You" e "You're the Sunshine of My Life". Resistir, quem há de?

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