São Paulo, segunda-feira, 23 de outubro de 1995
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Desapropriados têm crítica à prefeitura

Artista "perdeu" estúdio e jardim

DA REPORTAGEM LOCAL

A maioria dos moradores desapropriados devido ao prolongamento da avenida Faria Lima têm críticas contra a prefeitura.
A artista plástica Cleoo Ferreira Mendes, 65, disse que, desde que mudou para a rua Cardeal Arcoverde (zona oeste), está colocando as coisas em ordem.
Na rua Miguel Isasa, onde morava antes de ser desapropriada, Cleoo tinha um estúdio. Hoje, seus 450 quadros estão espalhados nas paredes da nova casa.
Para ficar no bairro onde mora desde criança, excetuando-se os períodos em que passou fora do país, Cleoo gastou os R$ 120 mil que levantou com a indenização na compra de sua nova casa.
A permanência em Pinheiros lhe custou espaço. "Eu vivo do que eu produzo. Onde é que eu vou expor meus quadros?"
"Estou hoje em um ateliê idiota. Tenho que ter cortina porque a janela do vizinho é muito próxima", disse Cleoo.
"Eu fico empacotada em uma casa onde não respiro. Eu tinha um jardim, tinha ar para respirar. Agora, não tenho nem samambaia", afirmou a artista plástica.
"Queria perguntar ao senhor Maluf se eu tenho que financiá-lo para inaugurar avenida nova", disse Cleoo.
A dona-de-casa Marilena Juliano Padovan, 55, disse que está melhor do que estava na rua Cunha Gago, onde morava até ser desapropriada.
Ela mudou para um apartamento no Sumarezinho, também na zona oeste.
O sobrado no qual morava foi avaliado em R$ 80 mil. Com a retenção de 20% desse valor e os honorários do advogado, faltou dinheiro para comprar o imóvel que queria.
Ela teve de pôr recursos do seu bolso. "Estou melhor, mas não graças à prefeitura."
O serralheiro Jorge Alves, 45, perdeu o ponto comercial que explorava em Pinheiros havia 32 anos. Até hoje, ele está sem novo endereço para sua loja que funcionava no bairro.
Ele disse que, de alguma maneira, o inquilino também deveria ser indenizado quando a prefeitura desapropria um imóvel.

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