São Paulo, terça-feira, 24 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasil grande

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Fernando Henrique abriu o jogo, ou quase.
Primeiro enviou tropas para a África, viajou pelo mundo, distribuiu sorrisos a todos os presidentes e primeiros-ministros e ditadores que encontrou. Até que ontem, em discurso na ONU, mostrado ao vivo na CNN internacional, ele jogou algumas cartas na mesa:
- Hoje eu venho reafirmar o compromisso brasileiro de lutar por uma ONU fortalecida e atuante. Não é um compromisso novo. É um compromisso que consubstancia a história do Brasil nesta organização desde sua fundação -desde quando o Brasil enviou tropas à Europa para lutar na Segunda Guerra Mundial pela liberdade e pela democracia. Uma história de participação e defesa da paz e do desenvolvimento que nos leva agora a uma disposição de assumir responsabilidades crescentes nas deliberações das Nações Unidas.
É o Brasil grande, que envia tropas de jovens brasileiros ao mundo inteiro, para lutar pela liberdade, pela democracia e pela paz.
Fernando Henrique sonha com responsabilidades crescentes, com a vaga no Conselho de Segurança, desde que passou pelo Itamaraty. O preço da cadeira é a aceitação integral -ao extremo mínimo das palavras- do discurso dos sócios titulares do clube.
Assim, no discurso de ontem, lá estava o brasileiro repetindo à letra os pronunciamentos de Bill Clinton quanto aos "valores", a expressão escolhida como bordão da campanha de reeleição do americano.
São "valores como democracia, liberdade econômica e justiça". São os "valores universais que podem inspirar todas as nações".
Mas o que assusta é menos o alinhamento político e mais a militarização que acompanha as tais crescentes responsabilidades. Ainda no discurso, o presidente proclamou, "que a ONU tenha instrumentos efetivos de promover a prevenção de conflitos".
A CNN, que anunciou o discurso dizendo que Fernando Henrique vem buscando "diminuir as fortes divisões entre ricos e pobres no país", mudou de imagem no final. "O presidente do Brasil", descreveu a rede, "pediu por uma ONU mais poderosa".
Mais poderosa, com instrumentos efetivos -como as tropas de jovens brasileiros.

Texto Anterior: Argentinos queimam santos
Próximo Texto: Ex-mulher de Marinho morre de derrame cerebral depois de assalto
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.