São Paulo, terça-feira, 24 de outubro de 1995
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Doença mata mais que violência

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os presos que antes morriam em brigas cortados por facas ou estiletes, estão agora morrendo de doenças.
Manoel Schetchtmann, que há 35 anos acompanha a "saúde" do sistema penitenciário, diz que dez anos atrás 80% das mortes eram violentas. As outras eram provocadas por doenças várias. Hoje, a proporção se inverteu.
"A tuberculose em decorrência da Aids está escondida nas causas não definidas", diz Schetchtmann, que é diretor de saúde do sistema penitenciário.
Para reverter esse quadro, ele pede mais dinheiro. Nova York tem o mesmo número de presos que o Estado de São Paulo -cerca de 54 mil. Lá, gasta-se por ano US$ 1,2 bilhão, contra US$ 130 milhões em São Paulo.
Dez por cento do dinheiro das prisões nova-iorquinas vão para a saúde. Aqui, gasta-se menos de 5%. "Se tivéssemos 7% dos US$ 130 milhões, poderíamos terceirizar a saúde e diminuir a catástrofe que se aproxima", diz.
Segundo o diretor de saúde, o que está acontecendo nas prisões é uma antevéspera do que ocorrerá na sociedade. "Ou cuidamos dos presos enquanto estão fechados ou eles em breve custarão muito mais caro para toda a sociedade."
Em São Paulo, cada preso custa por mês ao Estado R$ 350,00. Em Nova York, cada preso consome US$ 1.818 por mês.
Boa parte dos presos brasileiros poderia estar cumprindo pena fora das penitenciárias. Outra parte está lá por falhas no sistema.
Um estudo feito nas prisões do Canadá mostrou que 10% da população presidiária seria inimputável -ou seja, por causa de problemas penais, não poderia ser responsabilizada pelos crimes que cometeu. Deveriam estar em manicômios, não em cadeias.
"No Brasil, essa porcentagem deve ser mais alta", diz Schetchtmann.
"Se não forem cuidados e reeducados corretamente, sairão piores do que entraram", afirma.
(AB)

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