São Paulo, terça-feira, 24 de outubro de 1995
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Professor dos EUA defende TV no ensino

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A televisão, na educação, serve para tudo e todos -para formar professores ou educar alunos, para quem está dentro da escola e para quem está fora.
Essa é a opinião do professor de telecomunicações da Universidade de Indiana (EUA), Richard Burke, 63, que está em São Paulo para participar -como mediador- do 2º Congresso Internacional de Televisão e Educação, promovido pelo Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) em conjunto com a Escola de Comunicações e Artes da USP.
Ex-consultor do Banco Mundial, especializado em uso de rádio e TV na educação da América Latina, África, Ásia e Oriente Médio, Burke avalia programas no Brasil desde a década de 70 -quando rodou o país para ver experiências como o Mobral (de alfabetização de adultos).
A seguir, trechos da entrevista concedida ontem, no Senac.
Folha - Qual seria a utilidade da televisão para a área de educação em países como o Brasil?
Richard Burke - Para tudo. É como perguntar que tipo de livros nós deveríamos ter na biblioteca. Serve para formar professores, serve para escolas, para estudantes que estejam fora da escola, pode ser para pessoas que precisam de informação muito básica -por exemplo, onde é o posto de vacinação.
Folha - O sr., então, considera que a educação na televisão não é apenas seu uso na escola, mas também as campanhas?
Burke - Sim. Algumas pessoas afirmam que tudo que está na televisão é educativo. Eu tenho minhas dúvidas. Há alguns programas que eu não considero educativos. São pura diversão. Tudo bem com isso, também. Mas há muitos programas que são educativos. Quando você assiste a um filme, ou mesmo a uma telenovela, você aprende coisas: como vestir uma camisa corretamente, como conversar com o seu vizinho, por exemplo. Mas há também programas cujo princípio básico é educacional -para dentro da escola, para fora da escola, para professores, para toda uma comunidade, como a questão da vacina.
Folha - O sr. acha que a televisão poderia substituir os professores?
Burke - Não, não acho. Porque a interação pessoal é parte essencial da aprendizagem. Em grupo mais coisas acontecem. Por exemplo: eu falo de uma idéia que tive a partir de um problema de matemática e você diz "eu nunca pensei nisso". Isso não acontece quando você está sozinho vendo TV. Não é tanto que você precisa de um professor. Você precisa de outras pessoas aprendendo juntas.
Folha - Então a televisão seria um mero instrumento?
Burke - É o que eu acho. A televisão deve complementar algo. Alguma coisa deve estar acontecendo. No caso da vacinação, por exemplo, você evidentemente tem que ter médicos, enfermeiras, funcionários. A televisão é um meio para conseguir levar as pessoas lá, mas não vai fazer a imunização. Mas a transmissão de informações é muito valiosa. Nisso, o rádio também é importante.
Folha - A TV pode ser prejudicial à educação?
Burke - Claro. Um mal uso da televisão seria o professor dizer: "Bom, a TV está ligada, então vou dar uma volta". A TV não pode substituir o professor na classe, é para suplementá-lo.

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