São Paulo, terça-feira, 24 de outubro de 1995
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Reengenharia na greve

Se no século passado operários eram chicoteados nas fábricas e as tentativas de greves eram reprimidas à bala, há que se convir que a situação geral dos trabalhadores -mesmo no Brasil, onde o trabalho infantil ou em condições de escravidão lamentavelmente ainda sobrevivem- melhorou muito.
O mundo, entretanto, evoluiu, e se a greve tradicional ainda é uma forma de pressão relativamente eficaz no setor privado, no setor público ela já não surte efeitos.
Basta ver a sucessão das frustradíssimas greves de professores em São Paulo ou o fiasco da greve dos petroleiros. A lógica por trás disso é simples: quando a greve ocorre no setor privado, a paralisação cessa os lucros dos proprietários, que assim vão para a negociação.
No setor público, porém, não se trata de lucros, mas de serviços prestados à população, que fica privada desses serviços no mais das vezes essenciais. E quem é o culpado? A população pode considerar a reivindicação justa e culpar o governo -caso dos professores-, mas dificilmente se mobilizará para que o Executivo ceda. Pode também -caso dos petroleiros- se voltar contra a própria categoria e levá-la a uma derrota humilhante.
Foi baseado nessa traumática experiência que os petroleiros ameaçam agora com a "greve qualificada". A idéia é estrangular a entrada de produtos que não são considerados essenciais para a população, mas que podem ter fortes impactos para setores estratégicos. Se vai ou não funcionar, ainda é cedo para dizer. Mas, pelo menos, ao que parece, a tão necessária reengenharia chegou ao campo da greve.

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