São Paulo, quarta-feira, 25 de outubro de 1995
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Governo reduz importações em US$ 20 bi

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo conseguiu derrubar o potencial de importações realizadas pelo Brasil em aproximadamente US$ 20 bilhões, segundo estudo da MB Associados.
Em junho, o total dessazonalizado e anualizado (veja box) apontava para importações da ordem de US$ 61,4 bilhões em 12 meses.
No mês seguinte, o total projetado já tinha despencado para US$ 43,6 bilhões. Em setembro, ocorreu uma nova queda, estimada em mais US$ 1 bilhão.
O consultor Fernando Montero, da MB Associados, afirma que os números apenas constatam o tamanho do ajuste produzido -que equivale a um terço do que seria importado em 12 meses se o comportamento registrado em junho se mantivesse constante.
Para ele, dois foram os fatores decisivos nesse processo: 1) a queda do nível de atividade; e 2) a excessiva acumulação de estoques produzida ao longo dos primeiros nove meses do Plano Real.
Gesner de Oliveira, secretário-adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda, diz que a redução foi "natural e esperada pelo governo".
Para ele, a queda das importações não foi fruto exclusivo do desaquecimento da economia, embora o desaquecimento tenha sido "um dos objetivos da política desenvolvida, já que o nível de atividade estava crescendo a uma taxa explosiva".
Gesner lembra que desapareceram os movimentos de antecipação de importações, provocados pela instabilidade gerada com a crise mexicana, e que houve uma acomodação natural do volume de importações para baixo -depois que a demanda reprimida por importados foi atendida.
Montero afirma que os dados mostram que o país ainda hoje continua consumindo mais do que produz. Até junho, esse excesso aparecia nos déficits comerciais (importações maiores do que as exportações). Agora, ele está sendo atendido com a "queima" dos estoques acumulados -ou seja, o país está consumindo agora importações anteriormente realizadas.
O consumo sofreu um recuo em relação ao pico apresentado no Real, mas continua acima do padrão que prevalecia antes do plano. Segundo Montero, em agosto, o consumo físico de bens no comércio foi 18% maior do que a média do primeiro semestre do ano passado.
No mesmo mês, a produção industrial, segundo os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), já tinha voltado ao patamar de antes do Real.
A produção teve de cair mais do que o consumo, produzindo desemprego, para abrir espaço para a "queima" de estoques.
Montero não credita exclusivamente ao governo a redução do potencial de importações. "Não foi só o governo que fez esse ajuste. Foi a própria economia. Importações daquela magnitude (de US$ 60 bilhões ao ano) geraram uma acumulação de estoques que necessariamente iria se esgotar em algum momento."

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