São Paulo, quinta-feira, 26 de outubro de 1995 |
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Iara Lee filma manipulação tecnológica
MARIA ERCILIA
Brasileira radicada em Nova York, começou a fazer o filme quando estudava na Coréia e viu imagens de uma praia artificial no Japão. O projeto acabou crescendo bastante. Tornou-se um longa-metragem sobre possibilidades de manipulação tecnológica do corpo, da identidade e do ambiente. O documentário já foi exibido no cotado Sundance Festival (EUA) e no Festival de Toronto, e vai ainda para outros, como o de Avignon e o de Cartagena. Iara montou com com a irmã, Jussara Lee, uma linha de roupas com o nome do filme, vendida em magazines nos EUA, e vai editar um livro com o mesmo tema. Folha - Praticamente todos os "prazeres sintéticos" que você reuniu têm um aspecto meio kitsch: a realidade virtual, os videogames, a praia e a estação de esqui artificial... Lee - O filme tem esse lado dúbio mesmo, faço uma gozação dessa mania toda. Por exemplo, as pessoas assistindo um naufrágio artificial, aquilo é tão absurdo. Folha - Por que você acha que há tanto mau gosto nessa área? Lee - As pessoas saem com um discurso triunfal sobre tecnologia, mas a gente está engatinhando. Muitos dos que trabalham com isso são "geeks" (maníacos por computador), não há ainda verdadeiros artistas usando tecnologia. Folha - Qual a imagem mais forte do filme para você? Lee -Acho que a praia artificial no Japão é o ponto alto visual. Aquilo é uma loucura, a areia é de pedras de mármore importadas da China, as plantas são verdadeiras, mumificadas, as piscinas de ondas são de água mineral. O Japão copiou a idéia de uma praia semelhante no Canadá, mas a deles é muito mais sofisticada. Folha - O documentário mistura muitas áreas diferentes, há cientistas, artistas, curiosos, fanáticos. Qual foi seu ponto de partida? Lee - Eu estava na Coréia estudando e vi justamente imagens dessas praias artificiais. Os japoneses têm muito dinheiro e muito pouco espaço de lazer, sua solução é criar ambientes artificiais. No começo, era apenas um curta. Acabei ampliando a idéia para a manipulação do ambiente, do corpo e da mente. Folha - Você praticamente só entrevistou homens no seu documentário. Lee - Isso é um problema, a tecnologia ainda é um "boy's club". Tentei achar mais mulheres, mas foi difícil. Agora estou montando um livro sobre o tema e procuro a colaboração de mais mulheres. Acho que nós temos uma resistência maior mesmo. Eu, por exemplo, acabei aprendendo muito ao fazer esse documentário. E meus professores são todos garotos. A tecnologia coloca muito poder na mão dos jovens. Folha - A mania tecnológica não acaba sendo um traço da cultura norte-americana? Lee - Ah, sem dúvida. Basta ver esse crescimento do Silicon Valley. Num país como o Brasil, por exemplo, as pessoas adoram novidades, o vídeo se desenvolveu tão rapidamente, brasileiro gosta de tudo que é eletrônico. Texto Anterior: Mostra associa maquiagem e foto Próximo Texto: Documentário mapeia universo artificial Índice |
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