São Paulo, quinta-feira, 26 de outubro de 1995
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Livro registra o olhar de Gabriel Figueroa

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

"Gabriel Figueroa -O Mestre do Olhar" (Edições da Mostra, 96 págs., preço a definir) se lê de sentada. É o resultado de três horas de entrevista do mais importante diretor de fotografia mexicano ao organizador da mostra, Leon Cakoff.
A primeira versão apareceu em junho último na Folha dentro da série da entrevistas históricas dedicadas ao centenário do cinema.
A edição integral será lançada no próximo domingo às 17h no MIS, na presença do cineasta, numa promoção Folha/Mostra. Desde ontem o evento apresenta uma retrospectiva com onze dos mais importantes títulos fotografados por Figueroa entre 1936 e 1983.
Gabriel Figueroa, 88, merece. É dos raros fotógrafos da história do cinema a disputar ou dividir com cineastas o lugar de "autor" de um filme. Exemplo: ao resenhar "Os Esquecidos" (Los Olvidados) em Cannes em 1951, ninguém menos que Octávio Paz fala do "filme" de Buñuel e Figueroa. O primeiro prêmio internacional do cinema mexicano foi atribuído em Veneza-36 à fotografia de Figueroa para "Alla En El Rancho Grande", seu primeiro trabalho-solo.
Poucos fotógrafos latino-americanos chegaram perto de seu prestígio. Néstor Almendros (1930-92), nascido na Espanha mas criado em Cuba, fotógrafo de "O Joelho de Claire" e "História de Adéle H", foi um deles. Figueroa conta a Cakoff a anedota de um encontro marcado que se frustrou. Figueroa e Almendros jamais se conheceram. Teria sido de arromba.
Almendros ao menos escreveu sobre o mestre mexicano. Num texto compilado na antologia "Cinemanía, Almendros" o inclui entre "os personagens-chave" do cinema mexicano. Reconhece sua importância na valorização dos fotógrafos mas critica "o amaneiramento" virtuoso de Figueroa, que "terminou confundindo cinema com pintura, no melhor do casos, e com cartões postais, no pior".
Almendros pesa a mão mas abre um interessante debate sobre o estilo do mestre. A entrevista de Leon Cakoff não entra nessa polêmica. É um trabalho de crítico-fã. Extraiu de Figueroa declarações valiosas sobre a influência do expressionismo alemão em sua formação, a experiência com o macartismo, o cotidiano de trabalho com cineastas do porte de Buñuel, Ford e Huston. É a história do cinema que fala pela voz de Figueroa.

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