São Paulo, quinta-feira, 26 de outubro de 1995 |
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'Eclipse' vê a carência deste fim de século
FERNANDA SCALZO
Produção: Canadá, 1994, 95 min. Direção: Jeremy Podeswa Elenco: Von Flores, John Gilbert Quando: hoje, às 22h30 Onde: Cinesesc "Eclipse", primeiro longa do canadense Jeremy Podeswa, que será exibido hoje na Mostra com legendas em português, é mais um testemunho sobre este fim de século. O filme fala sobre a frivolidade das relações amorosas e a carência que elas acabam causando. "Eclipse" retrata a vida de dez pessoas nos dias que antecedem o eclipse solar, no ano passado. Elas transam umas com as outras e vão se derrubando, como dominós. Um senhor rico, um prostituto, uma empregada doméstica, um estudante, um imigrante venezuelano, uma dona-de-casa etc. -ninguém escapa desse círculo sexual. As vidas dessas pessoas, que em princípio não teriam nada em comum, acabam unidas pela promiscuidade. A primeira cena do filme é o senhor que pega o prostituto para transar. Eles usam camisinha. No final, uma maluca aspirante a atriz vai acabar na cama desse mesmo prostituto, depois de uma aventura atrapalhada num banheiro de uma boate gay. Entre as cenas de sexo, mais e menos explícitas, o diretor mostra imagens do eclipse e das pessoas que se preparam para assisti-lo. Um especialista diz que a palavra "eclipse" associa-se à idéia de abandono, "como se os humanos fossem abandonados pelo Sol". Testemunhar o fenômeno no céu, e comprar um monte de badulaques relacionados a ele, parece ser uma obsessão das pessoas. Como se não tivessem outras eclipses em suas vidas para observar. O filme de Podeswa é bastante pessimista. Ninguém sai do sexo contente. A maioria chora e outros engolem um profundo mal-estar. São encontros motivados por desejos e/ou carências irrefreáveis. O outro é, antes de mais nada, um alimento para aplacar a fome. Os laivos de romantismo são logo transformados em desilusão. "Eclipse" é mais feliz na idéia do que na realização. A mistura de imagens em vídeo com imagens em 35 mm cansam o espectador. O filme parece tão emperrado quanto as relações que retrata. Texto Anterior: Documentário mapeia universo artificial Próximo Texto: Livro registra o olhar de Gabriel Figueroa Índice |
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