São Paulo, sexta-feira, 27 de outubro de 1995
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Nem para rir nem para chorar

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Na média, até que o presidente Fernando Henrique Cardoso poderia considerar-se coberto de razão com sua infeliz frase a respeito de rir da recessão.
"Na média, não se pode falar em recessão", admite, por exemplo, Marcel Solimeo, chefe do Departamento de Economia da ACSP (Associação Comercial de São Paulo).
O único problema é que média é uma abstração estatística. Não existe na vida real. Há, sim, setores em recessão. De uma forma geral são aqueles que não têm acesso ao crédito externo (bem mais barato) e enfrentam furiosa concorrência dos importados, em alguns casos extremamente desleal (tecidos chineses, por exemplo).
Como há setores, em condições opostas, que estão de fato rindo.
Há, ainda, disparidades regionais e dentro de cada Estado. Áreas agrícolas de São Paulo sofrem com a queda na renda agrícola (esta, aliás, admitida pelo governo).
'A Bahia purga a praga do cacau e a praga do Banco Econômico", constatou Solimeo em recente viagem ao Estado.
O economista da ACSP traça, talvez, o melhor retrato de qual será a situação da economia para o Natal deste ano: "Melhor do que em 1993, pior do que em 1994 e melhor do que a expectativa que se tinha há uns dois meses".
Há, portanto, argumentos para satisfazer todos os que apostaram nas mais diferentes hipóteses para o desempenho da economia no conjunto do ano.
Depende apenas do ângulo pelo qual se olhe ou do setor da economia que se tome em conta.
Bem feitas as contas, o presidente parece ter razão em outro tipo de comentário que fez. Na semana passada, em conversa com o premiê espanhol Felipe González, na presença da Folha, FHC ironizou os economistas dizendo que eles acham que "estão em Bonn".
Explicação: movem-se como se, à semelhança da Alemanha, um pontinho ou meio a mais ou a menos nos juros provocasse forte aquecimento ou desaquecimento da economia.
Do jeito que foram os juros ao longo do ano, o Brasil deveria ter entrado em uma baita recessão.

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