São Paulo, sexta-feira, 27 de outubro de 1995
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Atenção, contribuinte

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Na fiscalização do sistema financeiro o Banco Central brasileiro age como tartaruga manca. No caso do Econômico, só interveio depois que Calmon de Sá já havia sacado até o dinheirinho do final de semana.
Na defesa dos seus próprios interesses, porém, o BC é lépido como uma lebre. No momento prepara-se para injetar na Centrus, o fundo de pensão que paga a aposentadoria de seus empregados, a bagatela de R$ 400 milhões.
O dinheiro corresponde a quatro vezes o que Fernando Henrique gastou até o momento na conservação de estradas: R$ 102 milhões. E será usado para assegurar aos aposentados do BC vantagens concedidas a funcionários da ativa em três planos de reclassificação salarial. O mais velho data de 89.
O TCU emitiu parecer contrário às intenções do BC. O Ministério da Previdência, a quem cabe fiscalizar os fundos de pensão, também tenta sustar a iniciativa.
Nem por isso os aposentados do BC perderam o sono. Já estão recebendo, não é de hoje, os aumentos relativos a dois dos três planos de promoções salariais.
A dinheirama não sai da Centrus, mas do Tesouro Nacional. A sangria chega a R$ 41 milhões ao ano.
Um trabalhador comum, ainda que se esfalfe para pagar a Previdência, terá uma aposentadoria de fome, inferior ao seu salário na ativa. Ao vestir o pijama o funcionário do BC recebe o mesmo que seu colega de terno e gravata.
Nada contra, desde que os beneficiários financiassem a mordomia. O problema é que parte de sua tranquilidade está sendo bancada com dinheiro público de um Estado falido.
Argumenta-se no BC que a aposentadoria gorda é legal. Está prevista até nos estatutos do banco. Diz-se que, após o repasse dos R$ 400 milhões, as regras seriam alteradas.
Doravante, diante da necessidade de novo reforço de caixa, a Centrus deixaria o Tesouro em paz. Em vez de forçar a porta do cofre, aumentaria o desconto no contracheque dos funcionários. É de se perguntar: E por que não mudar já?
Seja como for, sob o casco de tartaruga ou na pele de lebre, as passadas do BC convergem sempre para uma mesma direção: o bolso do contribuinte. Isso já está ficando monótono.

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