São Paulo, sábado, 28 de outubro de 1995
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Porre

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE

No fantástico país do futuro, onde a maioria das frases é intercalada por um "né" e outras tantas por um "hai", na terra onde a metade dos comerciais de TV vende comida pronta e a outra metade anuncia remédio para azia -será assim o futuro?-, Michael Schumacher comemorou o seu bicampeonato mundial na F-1.
E reconheceu que não se lembra de quase nada, porque encheu a cara com o pessoal da Benetton, na noite do último domingo.
Do jeito que os pilotos de F-1 são, hoje em dia, o alemão deve ter se embriagado com menos de três copos.
Mas, porre mesmo, ele deu nas pistas neste ano, com duas apresentações especialíssimas, o GP da Bélgica e o quase histórico GP da Europa, em Nurburgring.
Sem dúvida, merecia ser bicampeão, assim como a Benetton merece o título entre os construtores, que pode acontecer na corrida desta madrugada, no Japão.
Por mais dúvidas que pairem sobre o caráter de Flavio Briatore, não dá para negar que o sujeito é bastante competente. Desculpe-me, seu Williams. Seus carros são até melhores. Mas o senhor conta com dois pilotos medianos e a Benetton tem o alemão, o que faz muita diferença.
Pior: parece que a coisa vai ser assim por algum tempo, até que apareça alguém para combatê-lo de verdade. Infelizmente, nada se vê no horizonte, pelo menos por enquanto.
Schumacher pode até não levar o título no próximo ano. Mas vai dar um trabalho danado, enquanto prepara seu carro vermelho para correr atrás do tri, em 97.
Ontem, em Suzuka, Schumacher usou de toda a autoridade que agora lhe cabe para pedir que pilotos e equipes se preocupem com o único tipo de acidente que ainda não tem um dispositivo específico de segurança: a decolagem.
Lembrando a morte de Marco Campos, o vôo de Katayama em Portugal, o milagre de Christian em Monza, Schumacher afirmou que os avisos já foram em números suficiente. E que é preciso agir para se evitar uma nova tragédia.
É um problema complicado, que não pode ter as suas soluções adiadas. E que, na minha opinião, não deve se limitar apenas à parte técnica.
"Temos que fazer alguma coisa." É a palavra do bicampeão.

Pedro Paulo Diniz está nadando em águas perigosas, infestadas de tubarões. Ser piloto de F-1 é mais complicado do que parece.

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