São Paulo, sábado, 28 de outubro de 1995
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Iconografia religiosa vira influência para modernos

JACKSON ARAUJO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Um dos assuntos do momento, a iconografia religiosa aparece também fora dos limites da TV, dos altares, igrejas e cultos. Integra o imaginário e a criação de uma nova geração de estilistas, fotógrafos, artistas plásticos e produtores.
Na cena fashion, a influência surge no underground. Vem de Minas Gerais com a marca Salve Rainha, de Martielo Toledo, 26. "Lembrei as imagens religiosas que marcaram minha infância e usei a oração para batizar a marca", justifica o estilista.
Toledo chamou de After Jesus Christ (depois de Jesus Cristo) sua coleção de verão, desfilada em São Paulo no dia de Cosme e Damião, em 27 de setembro.
Criou as estampas "Jesus Ressuscitado" e "Ascensão de Nossa Senhora", em que as imagens ganham rostos de ET's e aparecem cercadas por discos voadores.
Em Fortaleza, o artista plástico cearense Adjafre, 31, dá nova roupagem aos santos de gesso ao vesti-los com retalhos de tecidos como veludo, lycra e chita. "Quis adicionar bom humor às imagens tão sofridas dos santos", explica Adjafre. Entre os novos "modelos", saiote de pele de onça, bota com estampa de flores e blusa de arrastão.
Na exposição Novíssimos 95, inaugurada na última quarta na galeria Fotoptica, em São Paulo, a fotógrafa carioca Célia Freitas, 25, trabalhou sobre a cena dos apóstolos reunidos na Última Ceia. Apagou as figuras deles através de processo químico e colou na mesa uma fotografia de jornal com Cid Moreira, Glória Pires, Glória Menezes, Tarcísio Meira, Regina Duarte e Francisco Cuoco, sentados lado a lado.
Em caráter também multimídia, a programação visual do bar descolado Beijo de Judas utiliza a iconografia litúrgica. Seus convites e sua decoração trazem estatuetas de santos da arte popular brasileira. Neste fim-de-semana, o bar monta sua instalação num ateliê de design no Sumaré. Lá estarão à venda t-shirts com aplicações do Coração de Jesus e camisas em tecido holandês com imagens de santos, criadas pelo estilista Lino Villaventura.

Mundo Pop
Na cena pop, a apropriação dos ícones litúrgicos não é de hoje. Nos anos 80, a cantora alemã Nina Hagen aparece na capa do álbum "NunSexMonkRock" como uma madona, amamentando sua filha Cosma. Já Boy George acionou seu imaginário religioso ao misturar referências católicas e hindus em sua fase mística, no início dos anos 90. Na capa de "Closet Classics Vol. 1" há o Sagrado Coração de Jesus.
À frente deste movimento, os precursores e os mais expressivos são os fotógrafos Pierre e Gilles, transformando ícones católicos em imagens pop para sua série de "Cartões Postais Milagrosos".

Galeria Fotoptica - r. Cônego Eugênio Leite, 920, tel. 280-5480, Pinheiros. De segunda a sexta de 9h30 às 18h30. Ateliê de design - r. Havaí, 20, tel. 871-3338, Sumaré. Hoje e amanhã a partir de 21h.

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