São Paulo, sábado, 28 de outubro de 1995
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Festival mostra a estética do Oriente

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Espetáculo: O Olho do Tamanduá Com: Cia. Tamanduá de Dança Teatro
Quando: hoje (21h) e amanhã (19h)
Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, tel. 864-8544)
Ingressos: R$ 20
Espetáculo: S/N
Com: Companhia Dumb Type
Quando: hoje (21h) e amanhã (19h)
Onde: Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 256-2281)
Ingressos: R$ 20

O espetáculo "O Olho do Tamanduá", da Cia. Tamanduá de Dança Teatro, é uma produção brasileira que, no entanto, tem mais evidências orientais do que "S/N", do grupo japonês Dumb Type. Ambos integram a programação de encerramento do 5º Festival Internacional de Artes Cênicas, neste fim-de-semana.
O grupo Dumb Type (Tipo Mudo) surgiu há dez anos na Escola de Artes da Universidade de Kyoto. No próprio nome, revelava seu propósito irônico de negar estereótipos. "Queríamos ser a anti-inteligência e, em nossos primeiros espetáculos, negávamos a palavra falada", diz Peter Golighitly, um negro norte-americano que havia se mudado para o Japão, há 18 anos, para estudar acupuntura.
Apresentado como um grupo multimídia, que associa dança a teatro e alta tecnologia, o Dumb Type quer, na verdade, se manifestar contra os preconceitos da sociedade moderna.
"Tecnologia, para nós, é apenas um instrumento. Faz parte de nossa vida nesta passagem de século e por isso é normal utilizá-la". O grupo fala de racismo, violência, Aids e identidade sexual em "S/N", que pode significar Signal/Noise (Sinal/Ruído), Some/None (Alguém/Ninguém), Sense/Nonsense (Sentido/Não Sentido).
Outra integrante do grupo, a atriz Izume Kagita, salienta que, no palco, cada um interpreta a si mesmo. "Somos honestos. Representamos minorias como prostitutas, homossexuais, negros, soropositivos para o vírus da Aids".
Sobre Teiji Furuhashi, diretor e autor do espetáculo, eles esclarecem que ele não veio ao Brasil porque adoeceu pouco antes da viagem, pois é HIV positivo.
"Ele próprio é personagem da peça. O fato de não participar dos espetáculos que apresentaremos em São Paulo não interfere na essência da obra, que é um eterno work in progress".
Quanto à falta de afinidades com o butô, dança originada no Japão com Kazuo Ohno e Tatsumi Hijikata, os integrantes do Dumb Type explicam: "O butô é muito espiritual e nós queremos expressar um mundo real, mundano".
Em contrapartida, a Cia. Tamanduá de Dança Teatro faz do butô um dos principais recursos de sua linguagem, que também se vale da cultura brasileira.
Dirigido por Takao Kusuno, japonês que se mudou para o Brasil em 1978, o grupo inclui um índio Xavante no elenco. A partir do universo indígena, "O Olho do Tamanduá" celebra a natureza e a miscigenação dos povos, recorrendo a mitos, manifestações étnicas, populares e religiosas.
A referência ao tamanduá, nos nomes do grupo e do espetáculo, é uma alusão a um animal muito antigo e em extinção na fauna brasileira.
Segundo Felícia Ogawa, assistente de Kusuno, o olho muito focalizado do tamanduá serve de analogia para cada bailarino, que procura enxergar e transmitir seu universo interior.

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