São Paulo, sábado, 28 de outubro de 1995
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Tequila 2, fracasso 2

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - O que surpreende, no repeteco da crise mexicana, é menos o fato de ela estar pipocando de novo e mais o fato de se repetir o fracasso em antevê-la da maioria das grandes consultorias internacionais.
Já em dezembro passado fora assim. A julgar pela avaliação que faziam os gurus das finanças internacionais, a crise mexicana fora súbita. Os mexicanos foram dormir, no dia 23 de dezembro, com um pé firmemente colocado no Primeiro Mundo e acordaram, no dia 24, na pindaíba hoje conhecida.
Não foi assim, claro. A desvalorização do peso, no dia 24, apenas funcionou como o detonador de uma bomba-relógio armada muitos meses antes.
Bomba-relógio solenemente ignorada por algumas das instituições mais badaladas da praça. Já citei, neste espaço, o fato de a EIU, a unidade de inteligência da revista britânica "The Economist", que vende a peso de ouro seus relatórios sobre cada país, ter previsto em outubro de 94 que o dólar valeria três pesos e pico em janeiro de 95.
A diferença entre a previsão e a realidade foi apenas de uns 100% (o dólar, em janeiro de 95, valia seis pesos). A J. P. Morgan fazia previsões idênticas às da EIU.
Agora, de novo, a tônica entre os gurus era a de dizer que a crise mexicana havia sido se não superada, pelo menos muitíssimo amortecida. Cautela que se explica, certamente, menos pelo aperfeiçoamento das análises e mais pelo fato de gato escaldado ter medo de água fria.
Esse pessoal parece olhar apenas para as estatísticas mais convenientes, desprezando os sinais de alarme. E ignorando solenemente o lado político-social, como se a economia se destinasse a produzir belos números e as pessoas de carne e osso não contassem.
Vale, por isso, reproduzir o que sobre o México escreveu Shahid Javed Burki, vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina: "Apenas uma distribuição de renda mais equitativa pode viabilizar o processo de abertura política e liberalização econômica do país".
Substitua-se México por qualquer outro país dito emergente e a conclusão será a mesma.

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