São Paulo, sábado, 28 de outubro de 1995
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Dupla do barulho

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Reuniram-se ontem pela manhã, em Brasília, dois potenciais candidatos à sucessão de Fernando Henrique Cardoso: os ex-presidentes José Sarney e Itamar Franco.
Não por acaso, ambos são contrários à tese da reeleição. Em dado momento da conversa brincaram ao redor do tema, observados por José Aparecido de Oliveira.
Sarney provocou: "Seria uma ótima chapa: Itamar para presidente e Roseana (Sarney) para vice". E Itamar: "Quem gosta de fazer campanha é você, que já é candidato".
Os dois nunca estiveram tão afinados. Acham que Fernando Henrique tem obtido êxito no Congresso graças principalmente à aliança com o PFL.
Acreditam, porém, que o ambiente político vai se alterar significativamente no próximo ano. O marco da mudança seria a eleição municipal.
Passada a escolha dos prefeitos, os partidos se voltarão para as trocas de comando no Planalto e nos Estados. O poder de fogo de Fernando Henrique dependerá do estado de saúde do Plano Real.
Itamar e Sarney não fizeram críticas ácidas ao atual presidente. Mas, aqui e ali, deram suas alfinetadas. Acham, por exemplo, que o governo não está dando a devida atenção ao fenômeno do desemprego.
Outro receio que os une é o de que o Planalto se complique na área da reforma administrativa. Temem que, aprovado o fim da estabilidade no emprego, o governo demita em massa.
Itamar mencionou a "desastrada" reforma de Collor. Mas disse ter ouvido do próprio Fernando Henrique que não incorrerá no mesmo erro.
Falaram também sobre a hipótese de Itamar virar embaixador brasileiro na OEA. Em almoço realizado na véspera Fernando Henrique disse-lhe que, em seu governo, exercerá a função que bem entender. Mas, como de hábito, Itamar está em dúvida.
Sabe apenas que sairá de Lisboa até março. Hesita entre Washington e Juiz de Fora. Sarney estimulou-o a aceitar a representação na OEA.
Os amigos do circuito do pão de queijo acham que, no Brasil, Itamar poderia falar demais. Provocado, terminaria criticando o governo antes do tempo. Por isso também defendem que vá. Fernando Henrique, penhorado, agradece.

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