São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 1995
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SP faz ato contra privatização do Banespa

SILVANA QUAGLIO; ANTONIO CARLOS SEIDL; CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Está marcado para hoje o maior ato em favor do retorno do Banespa ao controle do Estado de São Paulo. Será uma manifestação contra a privatização.
O ato será realizado em frente à Assembléia Legislativa de São Paulo. O governador Mário Covas (PSDB) não deverá participar.
A presença de Covas estava incerta até ontem à noite. À tarde, o deputado José Aníbal, líder da bancada federal do PSDB, disse que o governador participaria da manifestação. Os dois passaram o sábado juntos. À noite, assessoria do deputado ligou para a Folha para dizer que ele havia se enganado, e que Covas não iria ao ato.
Participarão da manifestação políticos, funcionários e sindicalistas reivindicando o fim da intervenção do Banco Central no Banespa, iniciada em 30 de dezembro de 1994.
Os organizadores esperam atrair 10 mil pessoas para o pátio externo da Assembléia.
Deputados estaduais, federais, cerca de 300 prefeitos e centenas de vereadores também são esperados. Às 17h, todos seguem em carreata do Palácio dos Bandeirantes até a Assembléia.
Fontes próximas ao governador consideram que a manifestação faz parte do jogo político, mas temem que, neste momento em que as negociações estão caminhando bem, ela possa atrapalhar.
A decisão de Covas de não participar evita uma situação de confronto com presidente Fernando Henrique, tucano como ele.
José Anibal disse que o ato é a “reafirmação” da tese de que o Banespa deve continuar estatal.
Ele defende um processo de reestruturação e saneamento na instituição. “Isso é necessário para que o Banespa se adapte às grandes transformações em curso no setor financeiro após a introdução do Plano Real”, disse.

Manifestações
Várias manifestações pelo retorno do banco à administração do governo estadual e contra a privatização têm sido feitas desde o início da intervenção do BC no Banespa. Mas este será o primeiro ato a juntar funcionários, lideranças sindicais e políticos-partidárias.
A idéia começou em sindicatos ligados à CUT, pela diretoria de representação dos funcionários no banco, Corep.
Logo ganhou o apoio de prefeitos que têm sido envolvidos no movimento de “defesa do banco” por uma estratégia engenhosa.
Funcionários do Banespa em mais de 400 cidades do interior do Estado estão se cotizando, desde o início de agosto, para distribuir ações às prefeituras.
A estratégia faz parte do projeto apresentado pelo PT de transformar o banco em instituição pública, com o conselho de administração composto pelo governo, funcionários, prefeituras e entidades como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
Políticos da bancada federal paulista e técnicos do Banco Central acreditam que a intervenção acabará no mês que vem. O principal empecilho continua sendo a dívida de R$ 13 bilhões do Estado com o banco.
Detalhes
A Folha apurou que só faltam alguns detalhes para o acordo sobre a dívida do Estado de São Paulo junto ao Banespa. A conclusão das negociações pode acontecer em poucos dias.
Covas diz não querer tratamento especial, mas vai precisar de um bom empurrão do governo federal. Os cofres do Estado mal têm recursos para pagar o funcionalismo.
Mas o governador está se credenciando a uma ajuda federal na medida em que se dispõe a vender patrimônio, privatizar estatais e conceder serviços públicos à iniciativa privada.
Mesmo resolvendo a dívida para que a administração do Banespa volte ao governo do Estado, será necessário um período probatório.
Será a administração compartilhada entre o BC e o governo do Estado para garantir ao Banespa uma transição para o mercado.
Hoje, o banco conta com ajuda de outros bancos, principalmente oficiais, para fechar seu caixa diariamente.
Durante a fase compartilhada, o banco deverá passar por uma reestruturação com demissão de funcionários e fechamento de postos de atendimento considerados economicamente inviáveis.
Só depois desse período, o Banespa poderá voltar a caminhar com as próprias pernas.

Colaborou ANTONIO CARLOS SEIDL, CARLOS ALBERTO SARDENBERG, da Reportagem Local

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