São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 1995
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Polícia prende dois líderes dos sem-terra

VALMIR DENARDIN; PAULO FERRAZ
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SOROCABA

PAULO FERRAZ
Os líderes sem terra Diolinda Alves de Souza e Márcio Barreto foram presos ontem na região do Pontal do Paranapanema (extremo oeste do Estado de São Paulo).
A principal liderança na região, José Rainha Jr., também teve sua prisão preventiva decretada, mas encontrava-se foragido da polícia até o fechamento desta edição.
Os três tiveram sua detenção determinada na sexta-feira pelo juiz de Pirapozinho (600 km a oeste de São Paulo), Darci Lopes Beraldo. São acusados de formação de quadrilha com o objetivo de invadir terras na região. Estão sujeitos a pena de um a três anos de prisão.
Rainha, Diolinda e Barreto são os três principais líderes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) no Pontal. No último sábado, coordenaram mais uma invasão de terras na região.
Cerca de 1.200 pessoas, segundo o MST, ocuparam a fazenda São Domingos e seis barracões da usina hidrelétrica de Taquaruçu, da Cesp (Companhia Energética de São Paulo), em Sandovalina (640 km a oeste de São Paulo).
Diolinda é mulher de Rainha e foi presa às 14h30, em sua casa, em Teodoro Sampaio (710 km a oeste de São Paulo). Estava acompanhada da sobrinha Rosimeire, 15, e do filho João Paulo, 2.
Seis policiais civis e militares foram responsáveis por dar voz de prisão a ela. Diolinda chorou muito. Não resistiu e foi levada algemada.
A Folha apurou que Diolinda, após ser presa, passou rapidamente pela delegacia de Teodoro Sampaio e foi levada para Presidente Prudente.
Em Prudente, a mulher de Rainha teria dito que não se escondera porque pensara que a notícia de decretação da prisão preventiva fosse apenas mais um boato.
"Ela estava desesperada", disse o advogado, que viajou ontem à noite para visitar a sua cliente.
Barreto foi detido também por volta das 14h30 por policiais civis em Mirante do Paranapanema (640 km a oeste de São Paulo).
Encarregado de acompanhar as ações judiciais que envolvem o MST, Barreto tinha ido ao fórum da cidade.
Após deixar o local, dirigiu-se ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Mirante para saber detalhes sobre a decretação da prisão preventiva de Rainha. Quando deixava a sede do sindicato, Barreto foi preso pela polícia.
Segundo o delegado Ely Roberto Sanches, que responde pelas delegacias de Mirante e Teodoro Sampaio, as prisões foram "pacíficas" e não houve violência nem reação dos dois líderes.
A polícia forneceu informações desencontradas sobre o destino dos dois presos. Segundo o delegado Sanches, eles haviam sido encaminhados em carros da polícia até a Delegacia de Marília (443 km a noroeste de São Paulo), conforme determinava a ordem de prisão expedida pelo juiz.
Às 18h30, porém, a Delegacia Seccional de Marília informou que não havia recebido nenhuma solicitação da Justiça para receber Diolinda e Barreto.
Carlos Rainha, irmão do líder do MST, disse que a decretação da prisão das três lideranças "revoltou" os sem-terra da região. "Desde quando ocupar terra é crime?", perguntou.

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