São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 1995
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Historiadora investiga trabalho infantil 'legal'

DA REPORTAGEM LOCAL

A atual campanha nacional contra o trabalho infantil ("Lugar de criança é na escola") enfrenta uma "tradição" existente desde o século passado.
Segundo a historiadora Gislane Campos Azevedo, 29, a oficialização desse tipo de trabalho ocorreu com o que foi chamado de contrato de soldada.
Esse contrato era a forma pela qual os juizes de Órfãos de São Paulo "alugavam para os 'homens bons' os serviços dos menores pobres e indigentes", diz Gislane.
Segundo ela, "a soldada nasceu quando as restrições à escravidão começaram a ser impostas. A partir da Lei do Ventre Livre (1871), seu uso foi intensificado".
Para chegar a essas conclusões, a historiadora pesquisou cerca de 1.500 processos do Juizado de Órfãos, Ausentes e Anexos da Cidade de São Paulo, que hoje estão no Arquivo do Estado de São Paulo.
A dissertação traça um histórico da relação entre o Estado e as crianças. Localiza a origem do Juizado de Órfãos no período colonial, com a função de cuidar de questões relativas à infância rica.
Antes do contrato de soldada, o processo mais comum era o de tutela. "Era a forma usada por juízes para obter um responsável pelos menores."
"No entanto, a partir do momento em que as leis restritivas à escravidão foram sendo promulgadas, cada vez mais a tutela foi usada como forma de manter criados trabalhando compulsoriamente."
Assim, uma família (abastada) que quisesse o trabalho de um menor poderia alegar que a mãe ou pai era alcoólatra e adotá-lo, por meio da tutela. Além dessas relações, a dissertação revela o mundo de violência em que menores pobres viviam entre 1871 e 1917.

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