São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 1995
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Dívida pública; Fumo e liberdade; Nunca é demais; Círculo restrito; Lapso; Injustiça; Indelicadezas; Capital estrangeiro

Dívida pública
"No artigo intitulado 'Confusão de números', de 30/10, o jornalista Marcelo Beraba põe em dúvida as respostas do prefeito Paulo Maluf às questões da dívida pública municipal. Inicialmente, cumpre registrar que, ao invés de endividar a cidade, esta administração pagou dívidas de governo anteriores, no montante de R$ 1,6 bilhão. Ao assumirmos, em janeiro de 1993, a dívida mobiliária era de R$ 1,5 bilhão. Hoje é de R$ 2,5 bilhões junto ao mercado. Esse aumento deveu-se à incidência de juros elevadíssimos fixados pelo Banco Central, incidentes sobre o saldo devedor, e emissão de novos títulos para pagamentos de sentenças judiciais, devidamente autorizadas pelo Senado Federal, que para isso comprova, através do Banco Central, a sua efetiva realização. Temos em tesouraria R$ 1 bilhão em títulos não-colocados em mercado o que, portanto, não representa créditos contra o município. A situação financeira da prefeitura é inquestionavelmente boa e melhor que antes, pois a relação entre a dívida e a arrecadação é muito mais favorável. As receitas mais do que dobram nesta gestão. Além do mais, todos sabem que a prefeitura paga seus compromissos rigorosamente em dia e por isso consegue menores preços para serviços e obras contratadas. Finalmente, todas as demonstrações financeiras publicadas são feitas para esclarecer e tornar transparente a administração dos recursos públicos. É certo que, dada a natureza complexa desse tipo de informe, alguma confusão pode ocorrer com sua leitura, fato que aconteceu com o próprio articulista no programa 'Roda Viva', ao afirmar que Maluf, quando governador, gastou na Paulipetro o equivalente a 15% do investimento da Petrobrás, equívoco prontamente reparado pelo prefeito para o correto 1,5%."
Celso Pitta, secretário municipal das Finanças (São Paulo, SP)

Fumo e liberdade
Não poderia ser mais hipócrita a propaganda de meia página da Souza Cruz. Como uma companhia fabricante de cigarros pode falar em liberdade se todos os fumantes são, na verdade, prisioneiros de seu vício?"
Walter J. Galindo Decker (Santos, SP)

Círculo restrito
"A carta de Hans J. Maier de 26/10, apesar de algumas considerações felizes, comete muitos enganos. O 'Estadão' se tornou um jornal onde, se as idéias no passado pré-reformas gerais eram amplamente aceitas, agora fechou-se no círculo restrito e imaculável do diretor de redação ou de seus proprietários. As pessoas que lá têm suas cartas e artigos publicados, de quase um ano para cá, se tornaram cativas, isto é, possuem cadeira na 'Academia de Gênios dos Fóruns'. Se combati a Folha em um passado distante foi por motivos outros, mas jamais deixei de receber dela uma resposta aos meus artigos ou cartas, e do 'Estado' nem respostas nem atenção recebi. A Folha recebeu minhas críticas, muitas vezes árduas, mas mesmo as recebendo, como já o fiz com o 'Estado', não fechou as portas para as minhas idéias."
Luiz Edgard Bueno (Londrina, PR)

Lapso
"O senador Sérgio Machado, em dia de lobisomem (sexta 13), defendeu a privatização da Vale do Rio Doce, que ele mesmo classifica como 'modelo de eficiência' e 'maior exportadora mundial de minério de ferro'. Esqueceu-se de falar sobre suas reservas de ferro, bauxita, cobre, manganês, caulim, ouro, níquel, nióbio e titânio. Por um lapso não informou que a Vale registrou lucro de US$ 645 milhões em 94. Perguntaria ao senador: fosse o senhor desativar uma entre empresas que possuísse qual desativaria, a lucrativa ou a deficitária? A quem deveriam ser entregues as estatais lucrativas?"
Luiz Sérgio Carraro (São Paulo, SP)

Injustiça
"Na edição do dia 22/9 foi publicada uma reportagem intitulada 'Operação apreende transmissores de rádio' onde o delegado dr. Nelson Silveira Guimarães informou: 'Esses radioamadores tocavam música na faixa de rádio policial'. Gostaria de informar que dentre os elementos autuados muitos não são radioamadores ou receberam suas licenças há pouco tempo. Muitas vezes nós radioamadores somos discriminados, pois em apreensão de equipamentos clandestinos é apregoado como apreensão de radioamadores, não levando em conta que radioamador é o indivíduo devidamente licenciado pelo Ministério das Comunicações, e não o equipamento utilizado pelo mesmo."
Ronaldo G. Brisolla, diretor estadual da Liga Brasileira de Radioamadores (São Paulo, SP)

Indelicadezas
"Só hoje posso responder às indelicadezas de artigo do secretário municipal Roberto Paulo Richter (11/10). Agradeço pelos elogios. Não me drogo com nicotina há anos, secretário. Sou contra o decreto antifumo por princípio. Re-cito von Mises, resumindo: 'Uma vez que se admita que é dever do governo proteger o indivíduo contra suas próprias loucuras, nenhuma objeção poderá ser oposta contra novas invasões. Uma boa causa poderia ser estabelecida em favor da proibição de álcool e nicotina. E por que limitar a benevolente providência à proteção do corpo? O mal que um homem possa impor à sua mente não pode ser ainda mais desastroso? Por que não impedi-lo de ler maus livros e assistir a maus espetáculos, admirar más pinturas e estátuas e ouvir má música?' Eis a questão. Mais que tolerar, precisamos apreciar as diferenças. Intolerável mesmo é a intolerância. A regra de ambientes separados para fumantes e não-fumantes é civilizada. Mas Juvenal já constatava: governo discricionário precisa de muitas proibições -para alimentar a 'máquina' e manter adversários sob o fio da espada, além de fazer média com desavisados. Maluf poderia, com campanhas, reforçar o respeito entre cidadãos. Por que há de, volta e meia, apelar para a truculência? A maior talvez seja o Minhocão, elevado Costa e Silva, em louvor ao general que cortejou para ser nomeado prefeito nos anos 70. Um alcaide capaz de um Minhocão não pode, nem por vias transversas, dar lição de moral em ninguém."
Mylton Severiano da Silva (São Paulo, SP)

Capital estrangeiro
"Sobre a coluna do ombudsman de 10/9: 1) ampliar o mercado de trabalho e introduzir novas tecnologias, além, é claro, de reduzir a nefasta influência dessas repugnantes oligarquias político-familiar-empresariais justificam, por si só, a abertura ao capital estrangeiro do setor de comunicações. Deve ser defendida; 2) se não houver diferenças de multas, a imprensa do interior, de duas, uma: ou vai se acovardar ainda mais ou perecerá; 3) desconheço os antecedentes do sr. André Forastieri, mas acho um excesso puni-lo por causa de uma metáfora. É evidente que ao sugerir um tiro em Regina Casé André estava apenas procurando ser engraçado; 4) como editor que fui de vários jornais sempre combati a 'ditadura do leitor'. Essa história de leitor exigir cabeça de jornalistas é nojento; 5) o ombudsman deve refletir a reclamação do leitor quanto a mais clareza, transparência e honestidade da parte do jornal. Não afagá-lo para que ele pare de arreganhar os dentes como um cão furioso. Em casos assim um bom pontapé no traseiro faz milagres."
João Albano (São José do Rio Preto, SP)

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