São Paulo, quarta-feira, 1 de novembro de 1995
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No Carandiru

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Primeiro os soldados não conseguem encontrar o líder dos sem-terra, José Rainha, mas vão lá e prendem a mulher dele -deixando sozinho o filho de dois anos, no hospital, para ser operado.
Não bastava e "a polícia algemou e expôs Diolinda Alves de Souza" à televisão, o que até o secretário de Segurança estranhou, pedindo apuração etc.
Não bastava e ontem "Diolinda foi transferida para o complexo do Carandiru", aquele, de triste memória. Talvez outra mensagem.
O temor se espalha, mas não apenas entre os trabalhadores sem-terra. "Alerta geral no campo, aumenta a tensão, a polícia teme uma reação" foram algumas das manchetes de televisão, ontem.
Inesperadamente, foi a própria Diolinda, com calma, até com paciência, em pleno Carandiru, quem surgiu ontem para dissolver os ânimos.
Segundo uma outra manchete de televisão, "a mulher do líder dos sem-terra, presa, declara que a violência não vai resolver o problema".
Era uma mensagem, mais uma, da televisão para os sem-terra, que deveriam mesmo tomar o maior cuidado. A violência não parece disposta a parar em Diolinda.
À distância
O presidente do Incra diz que a prisão dos líderes dos sem-terra só atrapalha.
O ministro da Agricultura diz que não, diz que tem que prender mesmo -e que, aliás, as terras do Pontal do Paranapanema não são devolutas não, que a União vai ter que pagar o quanto for etc.
O presidente da República, chefe dos dois, está longe, no ar, em lucubrações sobre as qualidades de si mesmo:
- O instrumento fundamental de um governante é a argumentação... A capacidade de dizer claramente o que pensa e não ter subterfúgios... para manter sua coerência...
Falava, claro, da argumentação com o Congresso, de dizer claramente o que pensa ao Congresso, de manter sua coerência diante do Congresso.

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