São Paulo, quarta-feira, 1 de novembro de 1995
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Diploma de vinil

GILBERTO DIMENSTEIN

Tão almejado e perseguido por gerações de estudantes, o diploma de curso superior, mesmo das melhores universidades, está perdendo valor nos EUA. Aquela imagem do indivíduo que entrava de calças curtas na escola e depois de duas décadas recebia, no trabalho, o que investiu na sala de aula, tem a mesma atualidade de um disco de vinil.
Numa conversa com esta coluna, o Prêmio Nobel de Economia Gary Becker dá um conselho para quem deseja sobreviver no mercado de trabalho: "Nunca pare de estudar. O profissional hoje tem de ser um permanente aprendiz, do contrário é expelido". Agora, estudar e trabalhar ao mesmo tempo não é mais privilégio da classe média baixa. Por todas as universidades, disseminam-se cursos de aperfeiçoamento para profissionais.
Essa é uma das consequências da acelerada máquina de moer conhecimento em que se transformou a tecnologia. O saber em profissões técnicas é ultrapassado em um ano; em informática, em apenas 8 meses. "A chance de um profissional se manter empregado só com o que aprendeu na faculdade é igual a zero", afirma Arno Penzias, Prêmio Nobel de Física, cujo dia-a-dia é fabricar novas tecnologias no Bell Lab, um dos principais laboratórios do mundo -dali, já saíram sete ganhadores do Nobel.
Esse assunto dá arrepio num brasileiro. As universidades estão em ruínas, falta dinheiro para pesquisa, é baixa a exigência de ensino (você-finge-que-ensina-e-eu-finjo-que-aprendo), e, para arrematar, professores universitários, muitos deles com doutorados caríssimos no exterior, pagos com dinheiro público, se aposentam com 50 anos de idade.
PS - Professor de Chicago, Gary Becker, apesar de seu Nobel, dos 63 anos, de um câncer, trabalha aos sábados e domingos. Sábado passado, por exemplo, estava em seu escritório até as 19h. Bom exemplo para muitos de nossos professores.

Enquanto a imprensa escrita amarga queda de circulação, o mercado de informações on-line cresce mais do que se previa nos EUA e Canadá. A maior pesquisa já realizada sobre o perfil do usuário de Internet, promovida pela Nielsen, especializada em comunicação, informa: 37 milhões (16% dos americanos e canadenses acima de 16 anos) já têm acesso à Internet 2,5 milhões compram por computador Em geral gastam mais tempo no computador do que diante do videocassete A renda familiar dos usuários é acima de US$ 80 mil por ano Do total de usuários, 64% têm pelo menos cinco anos de ensino superior; A idade média é de 35 anos; Daí é possível imaginar como os homens de negócios estão encarando a Internet, que, até pouco, se limitava a produzir saber e não dinheiro.

Três cenas de Nova York esta semana:
1) O publicitário Washington Olivetto entra num táxi e pede que o leve ao restaurante do Hotel Algonquin, um dos pontos tradicionais da cidade. O motorista elogia o bom gosto do passageiro e, aí, saca um gravador. Começa, então, a fazer uma entrevista diante do perplexo publicitário. O dublê de motorista e entrevistador explicou a insólita cena: está produzindo um livro sobre seus passageiros.
2) O artista plástico Antônio Peticov estava almoçando no Museu de Arte Moderna, engoliu uma ponte móvel e acabou com alguns dentes no estômago. Preocupado, procurou o serviço médico do museu. Não existia. Em tom solene, um guarda sugeriu: "Tome uma aspirina que passa".
Dali, procurou um médico, que lhe prometeu a cura com sofisticados aparelhos -por baixo, a brincadeira sairia por US$ 3.000. Antes de ir ao consultório, telefonou para seu dentista no Brasil, que lhe sugeriu um método mais simples. Três coisas: um pouco de paciência, uma boa revista e um laxante.
Ficou com o dentista, economizou US$ 3.000 e, mais importante, poupou um tubo entrando pela garganta.
3) Depois de entrar em vários restaurantes, o prefeito Paulo Maluf esnobou seus adversários contrários à limitação do fumo: "Eles deveriam vir a Nova York e tomar um banho de civilização. Veriam como um povo disciplinado respeita os próprios pulmões e, principalmente, os pulmões dos outros".
PS - Numa conversa com empresários que vieram a NY para a cerimônia do prêmio Homem do Ano, concedido a José Ermírio de Moraes, Maluf comentou: "Se a reeleição não passar este ano também não passa em 1997. O Sarney vai ajudar o Fernando Henrique ou o Serra vai ajudar o Mário Covas?".

Como o assunto principal da coluna hoje foi educação, dou uma dica turístico-pedagógica. Uma das principais experiências de ensino público no mundo está em Washington Heigths, bairro que, de tão violento, ganhou o apelido de "a capital do crime". Lá, o jovem tende a virar desempregado, subempregado, bandido ou traficante.
Uma escola pública resolveu apostar no envolvimento da comunidade, da família e propôs uma revolução no currículo. Os garotos, por exemplo, aprendem matemática, economia e questões sociais trabalhando numa loja de verdade instalada dentro da escola.
Aprendem ecologia e mecânica numa oficina para reciclar bicicletas velhas. Os testes mostram que estes alunos competem de igual para igual com os da escola privada. Eles têm um esquema especial para receber educadores de outros países interessados na experiência. O contato é Gina Trent no telefone (001-212) 569-2866.

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