São Paulo, quinta-feira, 2 de novembro de 1995
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MST propõe acordo para conter invasões

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, NO PONTAL DO PARANAPANEMA

O coordenador nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), Gilmar Mauro, 27, propôs ontem, em Teodoro Sampaio (710 km a oeste de São Paulo), a negociação de um acordo entre os sem-terra, o governo de São Paulo e o Incra para acabar com as invasões de terra na região do Pontal do Paranapanema.
O anúncio aconteceu durante manifestação no centro da cidade, que reuniu cerca de 400 pessoas. A PM, que acompanhou a manifestação à distância, não fez estimativa de público.
O ato aconteceu depois de uma passeata de cerca de 20 quilômetros, que reuniu 300 sem-terra, do acampamento -na rodovia que liga Sandovalina a Teodoro Sampaio- até o centro da cidade.
Segundo Mauro, o governador Mário Covas (PSDB), o secretário de Justiça do governo paulista, Belisário dos Santos Júnior, e o presidente do Incra, Francisco Graziano Neto, estarão neste sábado na região do Pontal para "finalizar o acordo".
As negociações entre Mauro, o governo paulista e o Incra tiveram início pela manhã de ontem, quando ocorria a passeata dos sem-terra. Da casa de José Rainha Jr., o coordenador do MST fez várias ligações para o presidente do Incra e para o secretário Belisário dos Santos Júnior.
Mauro disse que a confirmação do acordo deve pôr fim às "ocupações de terra no Pontal". Segundo ele, a proposta dos sem-terra é parar as invasões. Em troca, até o final deste ano o governo paulista e o Incra se comprometeriam em assentar as 2.100 famílias de sem-terra do Pontal.
"Serão necessários 40 mil hectares para os assentamentos e estamos acertando também recursos emergenciais de custeio para que o pessoal possa iniciar o plantio", disse Mauro.
O coordenador do MST disse que, "pela disposição do governo de São Paulo e do Incra, mostrada durante as conversas, o acordo deve ser fechado neste sábado". A reunião está marcada para acontecer na fazenda Haroldina, de 500 hectares, no município de Mirante do Paranapanema. Os sem-terra já estão plantando algodão, mamona e mandioca na área.
Em São Paulo, Covas negou que o Estado pretenda assentar 2.100 famílias até o final do ano em troca da suspensão de invasões de terra pelo MST. "Não há nenhum tipo de troca", disse.
Segundo ele, acordo firmado em setembro deste ano entre a Secretaria da Justiça e o movimento previa o assentamento de 1.000 famílias até o final do ano. As outras 1.100 famílias seriam assentadas em 96.
Belisário disse ter pedido a suspensão das invasões, mas negou que exista relação entre a interrupção das ocupações do MST e os assentamentos previstos pelo governo.
O anúncio do líder do MST foi feito antes que os sem-terra recebessem a informação de que a Justiça havia negado habeas corpus para os quatro líderes com prisão preventiva decretada:Diolinda Alves de Souza e Márcio Barreto, detidos, e José Rainha Jr. e Laércio Barbosa, foragidos.
Carlos Rainha, irmão de José Rainha Jr., disse que as lideranças que estão na região iriam se reunir na noite de ontem para analisar os "próximos passos do movimento" no Pontal do Paranapanema.
Segundo ele, o MST ainda estava tentando, na tarde de ontem, conversar com os seus advogados. Eles queriam saber as razões para a negativa da Justiça em libertar os quatro líderes sem-terra.

Colaborou a Reportagem Local

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