São Paulo, quinta-feira, 2 de novembro de 1995
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'Consórcio' de presos paga fianças para reduzir superlotação de cadeia

VALMIR DENARDIN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SOROCABA

Detentos da Cadeia Pública de Sorocaba (87 km a oeste de São Paulo) criaram uma espécie de consórcio para pagar a fiança de presos que não têm dinheiro.
Idealizado pelos próprios presos, o sistema tem por objetivo impedir o agravamento da superlotação das celas.
Os presos arrecadam entre eles mesmos as quantias necessárias para beneficiar pessoas autuadas em flagrante por crimes afiançáveis, como lesão corporal, porte de drogas, ato obsceno e desacato à autoridade.
"Para estes casos, o valor da fiança que costumamos cobrar gira entre R$ 30 e R$ 50", afirmou Miguel Castilho Filho, delegado-assistente da Delegacia Seccional de Sorocaba.
O "consórcio-fiança" foi criado na "ala dos crentes" (celas que abrigam presos seguidores de religiões).
Para essa ala -uma divisão da cadeia onde estão presos de menor periculosidade e bom comportamento-, são levados os detentos que praticam crimes afiançáveis, mas não têm dinheiro para pagar a fiança.
Com quatro celas que deveriam abrigar, no máximo, 20 pessoas, a "ala dos crentes" tem 80 detentos. Somente os presos dessa ala é que participam do rateio da fiança.
O diretor da cadeia, delegado Dirceu Marcelino, disse que o "consórcio-fiança" já beneficiou, neste ano, sete detentos.
O caso mais recente aconteceu há uma semana. O soldador J.S.R., 39, detido por porte de drogas, foi solto após pagar fiança de R$ 30.
"O que nós fazemos é também um ato de caridade", disse Milton Antônio Luiz, 43, condenado a três anos de prisão por tráfico de drogas.
Fiel da Igreja Cristã do Brasil e participante de cultos dentro da cadeia, Luiz foi o organizador da coleta que pagou a fiança de J.S.R..
Segundo ele, a idéia do "consórcio-fiança" nasceu espontaneamente. "Agora, quando temos dinheiro, costumamos pagar a fiança desse pessoal."
Construída para abrigar 60 presos, a cadeia de Sorocaba tem mais de 200. Para enfrentar a falta de espaço, dois presos costumam dividir o mesmo colchão e outros chegam a dormir nos banheiros das celas.

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