São Paulo, quinta-feira, 2 de novembro de 1995
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Angelopoulos faz viagem pelo fim do século

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Filme: Um Olhar a Cada Dia
Direção: Theo Angelopoulos
Elenco: Harvey Keitel, Maia Morgenstern, Erland Josephson
Estréia: Arouche e Cinearte

"Um Olhar a Cada Dia", que estréia hoje, é a tradução para "O Olhar de Ulisses", o título original do filme de Theo Angelopoulos, vencedor do Grande Prêmio do Júri, de melhor filme, no último Festival de Veneza.
Sua versão em português rouba o que Angelopoulos avisa no início: o filme pretende recontar a história da Odisséia, usando como cenário a cidade de Sarajevo, na ex-Iugoslávia.
Seu Ulisses é um cineasta (Harvey Keitel), grego como Angelopoulos, que tenta encontrar um tesouro. Um filme, perdido, dos pioneiros do cinema na Grécia.
Assim, o que se vê é a trajetória de um homem que atravessa uma Europa em cacos. Uma Europa, a dos Bálcãs, que é no fim do século o que foi em seu começo.
É um lugar que serve como um paradigma dos últimos cem anos, pela incapacidade em superar os violentos conflitos nacionalistas.
"Um Olhar a Cada Dia" é, portanto, um filme invernal, de uma quase completa desolação, assistido em seus apenas 76 planos em 2h55 de duração.
Mas, se esse é o século da guerra e da intolerância, Angelopoulos nos lembra que esse também é o século do cinema.
Seu cineasta é ao mesmo tempo Ulisses e o próprio Homero, porque faz a viagem -pelos países e também pelo tempo- e sente o impulso incontrolável em contá-la.
Se há uma imperfeição em "Um Olhar a Cada Dia" é o de, por vezes, se render ao puro virtuosismo. Mas é um filme belíssimo, que não busca explicação para o desastre, e sim tenta se recuperar da doença do mundo.

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