São Paulo, quinta-feira, 2 de novembro de 1995
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Debate aponta os limites para a invenção da inteligência artificial

ELVIS CESAR BONASSA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em debate sobre o tema inteligência artificial, o engenheiro Ivan da Costa Marques e o matemático e educador Nilson Machado atacaram um dos mitos do desenvolvimento científico: a melhoria das condições de vida, proporcionada pela tecnologia.
Para os debatedores, as conquistas tecnológicas têm apenas aprofundado as desigualdades sociais. "Sem uma modificação do quadro de valores, nada será diferente", disse Machado. "A qualidade de vida não depende do desenvolvimento que se imagina linear da ciência", emendou Marques.
O debate foi o penúltimo da série "Diálogos Impertinentes", promovida pela Folha e Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Foi mediado por Sergio Cortella, do departamento de teologia da PUC-SP, e Caio Túlio Costa, diretor de revistas da Folha e da Folha On Line.
Ivan da Costa Marques desenhou dois cenário cinematográficos para o desenvolvimento da inteligência artificial. O primeiro, o futuro limpo de "2001, uma Odisséia no Espaço", com o supercomputador Hal, produto pensante da informática.
O outro cenário foi "Blade Runner, o Caçador de Andróides", futuro poluído, no qual a inteligência artificial é abrigada em cópias biológicas de seres humanos, os andróides.
Nilson Machado manifestou ceticismo sobre a possibilidade de uma inteligência artificial propriamente dita, um artefato capaz de pensar como os humanos.
O argumento: inteligência não é apenas resolver problemas e decidir entre opções diferentes, mas constituir projetos de vida. "Será que esses corpos, desenvolvidos pela engenharia genética, poderiam ter vontade, ter projetos?"
Os debatedores abordaram também questões conceituais e tecnológicas. No campo da informática, ainda não se consegue, por exemplo, montar e programar equipamentos eficientes com o chamado processamento paralelo. Os computadores atuais funcionam de forma linear -só são capazes de realizar uma operação após outra.
Quando realizam mais de uma tarefa ao mesmo tempo (por exemplo, imprimir um documento enquanto editam um texto) usam dois processadores distintos.
A mente humana, ao contrário, processa simultaneamente informações diferentes, por caminhos diferentes, dentro do mesmo processo. Por isso, apesar de a velocidade de troca de informações entre neurônios ser menor do que a dos chips, o cérebro consegue resolver complexos de forma mais eficiente.
Ao lado do problema tecnológico, um problema conceitual: a inteligência pode ser resultado de um processo social, não é um simples atributo pessoal.
A interação entre seres humanos, de acordo com algumas linhas de pesquisa, é um ponto fundamental na constituição da inteligência.

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