São Paulo, quinta-feira, 2 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Martins retorna aos concertos com Bach

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

Discos: 17 CDs com as integrais para teclado de Johann Sebastian Bach
Intérprete: João Carlos Martins
Gravadora: Labor Records (EUA)
Preço: R$ 16,00 (só na rede Hi-Fi)

Depois de 10 anos longe dos palcos, o pianista João Carlos Martins, 55, se apresenta no dia 9, no espaço fashion do Shopping Iguatemi, no lançamento de 17 dos 21 CDs das obras completas de Bach para teclado, gravadas por ele nos últimos 16 anos.
Os outros CDs estão em processo de finalização.
Para terminar a empreitada, falta apenas a gravação de um adágio -que será feito em janeiro.
Ao todo são quase 400 músicas, se cada movimento de um concerto, ou dança de uma partita, forem consideradas como peças isolada.
Os CDs foram registrados em dois períodos. Entre 79 e 85, ele tocou 66% da obra, em Claremont (EUA). O restante foi feito nos últimos dois anos, na Opera House de Sófia (Bulgária), um teatro construído em madeira -que oferece uma reverberação natural.
Nesse ínterim, Martins se dedicou a outras atividades. Nos últimos 10 anos, ele manteve distância dos palcos. Tocava sua construtora, a Pau-Brasil.
Em 1993, um escândalo de financiamento de campanhas de Paulo Maluf envolveu sua empresa. "Se eu acertei, ou se eu errei, sempre foi em grandes dimensões, em todas as coisas", afirma.
Se antes passava meses sem se aproximar do piano, Martins agora estuda 10 horas por dia.
Resolveu terminar de gravar a obra completa de Bach para piano.
"É como correr a maratona. No terceiro quilômetro se está cansado, mas no penúltimo se está com tudo", compara.
Bach é um compositor com quem Martins sempre esteve associado. Sua obra favorita, por exemplo, são as 30 "Variações Goldberg", que Bach compôs para o Barão von Kaysering dormir.
"Bach é um gênio. Eu sou um ser humano que o está interpretando. É um diálogo de 200 anos, mas vou dar palpites. Pode perder o respeito às vezes, mas tem que ter coragem de assumir riscos."
Por causa dessa ousadia, Martins é um intérprete polêmico, embora muitos o comparem ao canadense Glenn Gould. Algo que o envaidece profundamente.
"Gould foi a pessoa mais importante da arte interpretativa no século 20", afirma.
Martins dizia que não iria mais tocar em público. Na verdade era excesso de nervosismo antes de entrar no palco. "Eu tinha medo", diz. Agora, ele retorna aos concertos. Dia 19 de novembro a maio de 96 ele realiza turnê pelos EUA.
"Nunca deveria ter abandonado o piano. Perdi 18 anos da minha vida", diz ele, se referindo aos períodos em que deixou de tocar.

Texto Anterior: Homem deve saber a quem se dirigir
Próximo Texto: Intérprete é pouco convincente
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.