São Paulo, quinta-feira, 2 de novembro de 1995 |
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Intérprete é pouco convincente
JOÃO BATISTA NATALI
Mesmo assim, executar Bach ao piano é hoje um costume amplamente aceito. O pianista brasileiro João Carlos Martins, é um dos poucos músicos que aceitou o desafio de uma gravação integral. Mas ele também sabia que ingressava num campo minado, em razão de parâmetros consagrados e inevitáveis de comparação. Há o Bach do canadense Glenn Gould, um monstro sagrado que conseguiu destilar a quintessência técnica de partituras, dentro das quais, no campo oposto, a cravista polonesa Wanda Landovska acreditava que a pureza se encontrava na transparência das emoções. Entre esses extremos, há pianistas ou cravistas que apresenta um Bach diferenciado e com ênfases originais. São exemplos Scott Ross, Dinu Lipatti, Wolfgang Rbsam e Gustav Leonhardt. O último inovador, já nos anos 90, é o ex-jazzista norte-americano Keith Jarrett. Martins desembarca nesse cenário congestionado, sem o mesmo cacife de outros pianistas brasileiros, como Arnaldo Cohen e Nelson Freire. O Bach que ele apresenta está artificialmente avançado no tempo, menos barroco e bem mais para o pré-romântico. Seu "Prelúdio e Fuga nº 1", do primeiro volume de "O Cravo Bem Temperado", possui uma expressividade nos ornamentos mais própria para o início do século 19, e é só um exemplo. A rigor, todo Bach é verdadeiro, porque um de seus atributos está na riqueza das leituras que ele permite. Mas o problema é o de saber até que ponto o Bach de João Carlos Martins é também convincente. Para os puristas, esses 16 trabalhosos CDs dificilmente chegarão a convencer. Texto Anterior: Martins retorna aos concertos com Bach Próximo Texto: Secretaria de Cultura suspende convênio de manutenção do Oficina Índice |
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