São Paulo, quinta-feira, 2 de novembro de 1995
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Sem-terra; "Fujimorização"; Profecias humanísticas; Representatividade; Distorção; Política científica; Desrespeito; Convicções errôneas

Sem-terra
"Diolinda tem cara: ela aparece algemada nas primeiras páginas dos nossos jornais. Ela é a cara dos sem-terra, protagonistas do maior avanço democrático dos anos 90 no Brasil: a descriminalização da luta pela terra, elevada a prioridade nacional. Já o latifundiário, proprietário dos 8.000 hectares de terra improdutiva de Corumbiara, a favor de quem a 'cega' Justiça brasileira decidiu o desalojo dos ocupantes, não tem cara, apesar de viver nos Jardins de São Paulo. Nem cara, nem algemas. Essa a 'Justiça' que não quer ser controlada pela sociedade."
Emir Sader (São Paulo, SP)

"Escandalosa a prisão de membros do MST. Os que invadiram e se apropriaram ilegalmente de milhares de hectares são apresentados como dignos proprietários, enquanto pessoas que querem trabalhar a terra são apresentadas como bandidos."
Ladislau Dowbor (São Paulo, SP)

"Acompanhando as últimas notícias das invasões dos sem-terra cheguei à seguinte conclusão: esses líderes foram presos é tarde demais! Por pouco não provocaram um conflito corporal (e lá estão crianças também), não deram crédito ao governo, abusam de uma certa 'liberdade de ir e vir' muito relativa, matam animais (!) alheios e, além de tudo, esses dois líderes nitidamente estão se promovendo politicamente, fazendo uma excitação coletiva, ou seja, uma desordem! E o que é pior: eles não têm organização, invadem o que lhes convêm, o que for mais perto ou mais cômodo. Como é triste ver os brasileiros aplaudi-los..."
Margareth Rezende (Guaratinguetá, SP)

"O sr. Covas está distribuindo dinheiro para os sem-terra porque não viu o estado da estrada que liga Itu a Cabreúva. Por que ele não anda um pouco por aí, que terá uma visão da sua administração? E outra, ajuda a diminuir a barriga dele."
Gijo Kikuti (São Paulo, SP)

"Fujimorização"
"Concordo plenamente com o dr. Gandra Martins. Os tucanos que tanto festejaram a Constituição de 88, agora no poder são os primeiros a rasgá-la. FHC é nosso Fujimori mal-acabado. No 'é dando que se recebe' deixou o Sarney no chinelo."
Juarez da Silva Campos (Pedregulho, SP)

"O professor Ives Gandra da Silva Martins foi brilhante em seu artigo de 31/10. Fico imaginando como a classe 'sempre dominante' reagiria se essa atitude fosse tomada pelo Brizola ou pelo Lula na Presidência da República. O primeiro seria taxado como ditador 'caudilho' e o segundo, como ditador comunista 'comedor de criancinhas'."
Sergio Gentile (São Paulo, SP)

Profecias humanísticas
"O posfácio de Caio Túlio na Revista da Folha (29/10) é reconfortante. O computador não poderá superar o cérebro humano. Porém, estou escaldado com tais profecias humanísticas. Em 1961 li um livro, traduzido do francês, 'O Pensamento Artificial', de Pierre Latil, onde concluía, baseado em muita erudição e informações, que o computador, por não ter imaginação, nunca iria jogar xadrez. Pois hoje eu só consigo vencê-lo quando o programa é para principiantes."
Rogerio Belda (São Paulo, SP)

Representatividade
"Informo que já recebeu parecer favorável do senador Jefferson Peres e está pronto para ser votado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado o projeto de lei, de minha autoria, o qual prevê a eleição direta dos suplentes de senador. O senador Peres acrescentou emenda, com a qual estou de acordo, segundo a qual poderá haver até quatro candidatos a suplentes. Assim, o eleitor terá para cada possível titular, por partido ou coligação, a escolha entre quatro nomes para dizer qual deve ser o primeiro e o segundo suplente. Como o artigo 46, parágrafo 3, não especifica a forma de eleição do suplente, a sua regulamentação poderá ser feita por projeto de lei. Dessa maneira se assegurará maior representatividade, conforme defende o editorial 'Dois pesos, uma medida', de 28/10."
Eduardo Matarazzo Suplicy, líder do PT no Senado (São Paulo, SP)

Distorção
"Dia 30/10 foi publicada uma reportagem dizendo que o governo está usando verba do Fundo Social de Emergência para obter votos para o próprio FSE. No último sábado (28/10) Carlos Heitor Cony escreveu um artigo -com o qual concordo plenamente- criticando essa forma de atuar do governo e do Congresso. Quero me solidarizar com a Folha e dizer que não são todos os deputados que aceitam esse tipo de pressão. Se não corrigirmos esse tipo de distorção, não aprimoraremos a democracia no nosso país."
José Aristodemo Pinotti, deputado federal pelo PMDB-SP (Brasília, DF)

Política científica
"Está registrada na história da ditadura militar a aliança tecnocrática-militar iniciada no final dos anos 60, com seu auge em meados dos anos 70. Os profissionais de tecnologia e engenharia (nem tanto os cientistas!) foram privilegiados, sobretudo no que se refere às suas remunerações. Entretanto, a partir de 1979 as políticas econômicas sucessivas dos governos militares reverteram o quadro, iniciando o processo de 'débâcle' das remunerações e -o que foi pior- dos empregos. A 'débâcle' começou por decreto em outubro de 1979 pelas mãos de um liberal, o ministro e atual deputado federal Delfim Neto. Primeiro, é decidido estrategicamente que países como o Brasil não podem ter nenhuma soberania e/ou autonomia científica e tecnológica. O mercado decidiu que os profissionais de ciência, tecnologia e engenharia deixaram de ser necessários em países como o Brasil em um mundo globalizado. Para que seriam necessários se não precisamos, nesse globo, nos preocupar com o luxo de uma simples soberania? Das universidades sairão profissionais para uma realidade de aprofundamento da 'dessalarização', do subemprego e do desemprego; da institucionalização de diferenças enormes de remuneração a favor de: categorias peculiarmente hegemônicas do setor financeiro, da medicina para a alta classe média e do direito. O país se defronta com a exigência de resolver duas situações: programas simultâneos e urgentes de superação da miséria absoluta e políticas científicas, tecnológicas e industriais que contribuam para o resgate da situação colonial de toda a sociedade."
Olavo Cabral Ramos Filho (Rio de Janeiro, RJ)

Desrespeito
"Consideramos inaceitável que a Folha publique um artigo do nível da coluna de Barbara Gancia de 13/9, intitulado 'Feminismo de ponta só na cultura islâmica'. Consideramos revoltante a maneira como a sra. Gancia tratou em seu texto a Conferência Mundial sobre a Mulher e as pessoas que ali se reuniram para debater os problemas que afetam, tantas vezes tão dramaticamente, as mulheres em todo o mundo. Além do vocabulário desdenhoso e desrespeitoso para com as mulheres, a referida colunista deixa patente para quem lê o artigo a sua superficialidade em relação ao tema que aborda, procurando apenas pontos a serem ridicularizados."
Margarita Diaz, seguem-se mais 22 assinaturas (Campinas, SP)

Convicções errôneas
"Se, por intermédio da força, vilipendiarmos a morosidade da consciência humana, corremos o risco de interferir na gravidez do tempo, causando um prematuro nascimento de convicções disformes. O senhor da razão dará, às divergências, possibilidades de convivência. Danoso é anteciparmos convicções à luz para satisfazer materialistas ambições. Aquelas, vindas à luz prematuramente, gerarão outras com o sobrenome de suas genitoras: fanáticos. Intolerantes, julgar-se-ão no direito de propalar suas convicções errôneas, tendo-as como corretas, promovendo choques culturais com dimensões desastrosas inimagináveis ao julgarem-se representantes únicos do Cristo vivo."
Sérgio José Serrano (São João da Boa Vista, SP)

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