São Paulo, sexta-feira, 3 de novembro de 1995
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Farsa empresarial

WILSON BALDINI JR.

Tudo pronto. Fim-de-semana pago para a mulher em um luxuoso spa, os filhos na casa dos avó, dois videocassetes instalados para captar as imagens do SBT e da Globo simultaneamente, milho separado para a pipoca doce, 24 laranjas na geladeira prontas para serem espremidas para o suco e o pijama surrado e pé-quente (aquele usado para ver as conquistas dos Mundiais do Senna no Japão) colocado no pé da cama.
Para quem não teve oportunidade de acompanhar outras grandes épocas do boxe e precisou estudar os mitos do pugilismo por meio de livros e fitas, a noite de amanhã seria a mais emocionante dos últimos 28 anos. Os três melhores pesos-pesados dos últimos dez anos em ação, para delírio dos apaixonados pela nobre arte. Tyson, Bowe e Holyfield, guardadas as devidas proporções, poderiam fazer os mais antigos reviverem os eternos momentos de Ali, Frazier e Foreman, da década de 70.
Mas, como é de costume, a figura do mau empresário precisa dar sempre seu toque final.
Com medo da concorrência, e sem coragem para admiti-la, Don King apelou para o acaso. "A luta Tyson-Mathis está cancelada porque Tyson fraturou o dedo da mão direita, que já estava machucado havia três semanas." Ora.
Não é preciso entender muito de boxe para perceber mais uma farsa armada pelo maior gângster do boxe mundial. Nos últimos dias foi possível ver Tyson treinar firme no saco de areia, no pushinball e contra os sparrings. Nem o "Iron Man" poderia suportar tão tranquilamente (como demonstrava estar) as dores de uma fratura. Mas vai ver que Tyson possui um talento ainda não descoberto de ator.
Na verdade, Don King passa por momentos muito difíceis. Além de ainda estar sendo julgado pela confusão na luta do mexicano Julio Cesar Chavez, em 91, via nos últimos dias seu antigo inimigo nas promoções de lutas, Bob Arum, faturar milhões com Bowe-Holyfield.
Enquanto muitos ingressos sobravam para a luta de Tyson (que seria mostrada em canal de televisão aberto), milhares de pessoas não acham caro os US$ 40 cobrados para ver a "Terceira Batalha", com a Arena do Hotel Caesars Palace totalmente lotada.
Uma pena! Mas mantenha o plano inicial. Mesmo sem Tyson, vamos acompanhar a melhor luta dos pesados de 95. Pelo menos este combate deve durar mais que os três minutos que Tyson iria precisar para derrubar Mathis.

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