São Paulo, sexta-feira, 3 de novembro de 1995
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Desemprego no campo

Em um movimento que parece ocorrer em todo o mundo, mas com maior intensidade nos países que reconquistaram alguma estabilidade de preços recorrendo à intensa competição dos importados, verifica-se no Brasil um descolamento entre o nível de emprego e o crescimento da economia. Enquanto esta evolui modestamente, o desemprego na indústria paulista, segundo a Fiesp, aumenta desde o início de maio, ininterruptamente.
São pois muito preocupantes as previsões de que nesta safra ocorrerá uma forte queda do emprego direto e indireto gerado na atividade agrícola. Segundo o Ministério da Agricultura, serão oferecidos 832 mil postos de trabalho a menos do que em 94. De acordo com a Sociedade Rural Brasileira, a contração será de 460 mil vagas.
Essas previsões indicam que o país ainda não desenvolveu um sistema equilibrado de apoio à atividade agropecuária. A política agrícola limita-se, lamentavelmente, a um conjunto pouco coordenado de medidas tomadas, a cada ano, no limiar da emergência e segundo os humores do Executivo e do Congresso. Daí o comportamento errático da produção no campo.
É claro que a necessária contenção dos gastos públicos impõe restrições também às iniciativas de estímulo à produção de alimentos. Mas neste último ano o setor sofreu a confluência de várias e duras circunstâncias desfavoráveis. O bem-sucedido empenho do governo em minimizar a elevação da cesta básica foi elemento fundamental no controle da inflação. Porém os custos do setor agrícola elevaram-se de maneira significativa.
Taxas de juros entre as mais altas do planeta, o custo dos insumos e a correção dos salários pelo IPC-r comprimiram as margens dos agricultores. O governo não pode agir no sentido de elevar os preços agrícolas. Mas tampouco é razoável ignorar uma situação que pode tornar-se dramática.

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