São Paulo, sexta-feira, 3 de novembro de 1995
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Fujimori para quê?

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Corre-me um frio pela espinha cada vez que vejo uma foto de congressistas comemorando o resultado de alguma votação, como a que a Folha publicou ontem.
É que a cada festa corresponde algum retrocesso. Ou pontual ou mais ou menos permanente.
A primeira comemoração que deu em tragédia foi em 1968. O Congresso rejeitou licença para processar o então deputado Márcio Moreira Alves, autor de discurso considerado ofensivo pelas Forças Armadas.
Foi o pretexto (e não mais do que isso) para o Ato Institucional número 5, talvez o mais violento instrumento de arbítrio baixado em uma terra em que o arbítrio faz parte entranhada do cotidiano.
A partir daí e até 1985, quando se restabelece a plena democracia, o Congresso não teve o que festejar.
Mas, depois, fotos como a de ontem se sucederam, tendo sempre um mesmo núcleo como personagem principal. Na essência, o PFL, ainda que os nomes dos parlamentares fotografados pudessem variar.
Foi esse núcleo o dínamo para que se aprovasse de tudo, do confisco da poupança proposto por Fernando Collor ao Fundo de Estabilização Fiscal, agora defendido com unhas e dentes por Fernando Henrique Cardoso, passando pelos cinco anos para José Sarney quando 80% do eleitorado queria quatro anos, conforme todas as pesquisas.
Tanta festa daria a entender que o Brasil deu formidáveis saltos. Não é bem assim, como se sabe. Basta recorrer a uma fonte insuspeita (o folheto "O Real e o Sonho", embrião do programa de campanha de FHC). Nele se informa que o país vivia a maior crise de sua história republicana.
É por isso que me vem o tal frio na espinha ao ver repetida a cena de comemoração de mais um triunfo do governo em mais uma votação congressual.
E é também por isso que não me preocupo com a hipótese de "fujimorização tucana" antevista pelo jurista Ives Gandra.
Para que "fujimorizar" se o Congresso aprova tudo o que todos e cada um dos governantes propõem?

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