São Paulo, sexta-feira, 3 de novembro de 1995
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Bons companheiros

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - A primeira embaixada brasileira no exterior foi instalada em Washington, em 1903. Naquele mesmo ano os Estados Unidos abriram no Rio sua primeira embaixada na América do Sul. São 92 anos de uma "parceria-ioiô", com altos e baixos.
Houve momentos em que o Brasil foi de uma subserviência abjeta. Como em 1965, quando enviou soldados para ajudar tropas americanas a invadirem a República Dominicana.
Estávamos sob Castelo Branco. Embaixador em Washington, Juracy Magalhães produziu aquele raciocínio segundo o qual o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil.
Houve ocasiões em que o Brasil comportou-se como nação verdadeiramente independente. Dois exemplos: a recusa de Getúlio Vargas em enviar tropas para a Guerra da Coréia e o histórico "não" do chanceler San Thiago Dantas à idéia dos EUA, afinal consumada, de expulsar Cuba da OEA.
Pois no momento o relacionamento entre Washington e Brasília está uma seda. A melhor evidência é um documento de seis páginas, feito sob encomenda de Bill Clinton e Fernando Henrique. Elaboraram-no o chanceler Luiz Felipe Lampreia e Michael Kantor, representante comercial da Casa Branca.
Entregue aos dois presidentes anteontem, o documento anota: "(...) As relações entre os Estados Unidos e o Brasil encontram-se, atualmente, em sua melhor fase em décadas".
Lampreia e Kantor identificaram uma avenida de possibilidades comerciais. E sugeriram aos respectivos chefes a adoção de uma série de providências até julho de 1996.
A principal proposta é a de que Brasil e Estados Unidos liderem a articulação de uma primeira reunião entre os países membros do Nafta (EUA, Canadá e México) e do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai). Os dois blocos iniciariam um processo de integração cujo objetivo final é a formação, em 2005, da Área de Livre Comércio das Américas (Alca).
Clinton e Fernando Henrique tendem a acatar as sugestões dos auxiliares. O que deve provocar ciúmes na Argentina. O presidente Carlos Menem vinha tentando, desde 1992, transformar-se no principal aliado dos Estados Unidos na América Latina. O Brasil parece mais próximo do posto.

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