São Paulo, sábado, 4 de novembro de 1995
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Governo abre frente da reeleição no Senado

RAQUEL ULHÔA; DENISE MADUEÑO; GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A tese de reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso cresce no Congresso e já está gerando uma disputa entre a Câmara e o Senado.
O líder do PSDB, Sérgio Machado (CE), relator da proposta de reforma política no Senado, vai incluir a possibilidade da reeleição em seu parecer.
A emenda constitucional que permite a reeleição para presidente, governadores e prefeitos, de autoria do deputado Mendonça Filho (PFL-BA), já está em tramitação na Câmara.
Tanto Machado como Mendonça Filho não acreditam que a emenda possa ser aprovada ainda neste ano.
A comissão especial do Senado que analisa a reforma política do país deve votar o parecer no fim de novembro.
Para Machado, mesmo que a reeleição seja aprovada na comissão, a votação no plenário do Senado só deverá ocorrer em 1996.
Mendonça Filho também considera que a votação da reeleição na Câmara só deve ser votada em fevereiro ou março do próximo ano. Mas seu argumento é político -a data obedece ao calendário das reformas constitucionais.
Articuladores
Os articuladores da reeleição de FHC prevêem que a Câmara terá concluído a votação dos projetos de reforma administrativa e previdenciária até o fim de janeiro.
"O fim das votações das reformas vai gerar otimismo. Haverá um clima favorável à votação da emenda de reeleição", afirmou Mendonça Filho.
A estratégia dos governistas é aproveitar esse tempo para intensificar o "lobby" em favor da reeleição de FHC.
O primeiro escalão do governo já deu mostras de que não pretende ficar distante das articulações. A cada dia aumenta o número de ministros que defendem um segundo mandato para FHC.
Mais um
Ontem foi a vez do ministro do Meio Ambiente e Recurso Hídricos, Gustavo Krause, encampar a proposta. Para ele, a possibilidade de reeleição permite que o presidente seja julgado pela população.
"O presidente será julgado por sua boa ou sua má administração", disse Krause. O ministro da Justiça, Nelson Jobim, também é a favor da tese. Na terça-feira, irá ao Senado para falar sobre o tema.
O ministro das Comunicações, Sérgio Motta, está encabeçando as negociações com o Congresso.
Ele tem em mãos uma pesquisa que mostra que 51% dos congressistas apóiam a reeleição. Motta, que sofreu uma cirurgia no coração, volta ao trabalho na segunda-feira.
O ministro já marcou conversas na terça-feira com o presidente do Congresso, senador José Sarney (PMDB-AP), e com o líder do PMDB no Senado, Jáder Barbalho (PA).
A reeleição não deve ser o motivo principal desses encontros, mas aliados de Sarney e Barbalho acham impossível que o assunto não venha à tona.
Sarney defende a reeleição do presidente ou o aumento do tempo do seu mandato. Para ele, quatro anos é pouco. Mas acha que o Congresso só deve cuidar do assunto após aprovar todas as reformas constitucionais.
Barbalho também é favorável à reeleição, mas quer que a proposta seja aprovada logo -em 96, no máximo- para não caracterizar "casuísmo".
Segundo Barbalho, se a proposta for analisada só em 97, o Congresso vai votar de acordo com o desempenho do governo: a reeleição será aprovada se FHC estiver bem e rejeitada se estiver mal.
O senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) foi o primeiro governista de peso a endossar publicamente a reeleição de FHC. No dia 22 de outubro, disse à Folha, em Nova York, que defendia o expediente e praticamente lançou FHC à reeleição.
No dia seguinte, o presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), filho de ACM, debateu o tema com Sérgio Motta.
A Folha noticiou no dia 31 de outubro que Motta fora escalado por FHC para conduzir junto aos políticos da base governista o tema da própria reeleição.
ACM tem uma discordância em relação à proposta de Barbalho. Para o senador baiano, a votação do tema deve ocorrer em 97 para evitar que FHC tenha de trocar votos por favores até lá.

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