São Paulo, sábado, 4 de novembro de 1995
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Conar alerta diplomacia dos EUA

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

Por volta das 9h de ontem, o advogado e publicitário Ivan Pinto, presidente do Conar (Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária), alertou diplomatas norte-americanos de que poderiam recorrer ao órgão para sustar a campanha da Duloren.
Pinto disse que tomou a iniciativa de se comunicar com a diplomacia norte-americana na tentativa de evitar que a propaganda brasileira fosse prejudicada internacionalmente "por um ato de grosseria".
"Sei que é complicado lidar com um assunto desses de governo para governo porque não existe censura no Brasil", afirmou. "O Conar é um dos mecanismos adequados ao caso."
"Avisei, contudo, que o órgão não poderia agir antes que o anúncio fosse veiculado", contou o publicitário à Folha. "Eles agradeceram e me disseram que iriam recorrer à entidade."
Ao meio-dia, o publicitário, que também é presidente da Abap, associação nacional das agências, recebeu ligação da embaixada em Brasília e foi informado de que essa providência não seria mais necessária, uma vez que a agência carioca e o anunciante haviam comunicado à embaixada da decisão de recuar na publicação do anúncio.
Ao ser alertado, no final da tarde, de que a veiculação ocorreria em revistas semanais, o presidente do Conar disse que o órgão nada poderia fazer para impedir "a não ser deplorar muito a utilização de um recurso desses por uma agência que não precisa desses expedientes".
Segundo Pinto, essa atitude "coloca a publicidade brasileira no seu mais baixo nível". Ele classifica o anúncio com a foto em que aparece parte da calcinha da primeira-dama dos EUA como "brincadeira de mau-gosto". E acrescentou: "Em nosso país, a grosseria e o mau-gosto volta e meia atacam."
Ele disse que, independente de ser formalizada uma reclamação, a diretoria do Conar vai reunir sua diretoria jurídica na próxima segunda-feira para a possibilidade de sustar liminarmente a campanha.
"Há três ou quatro bons motivos para que o anúncio venha a ser julgado e sustado pelo Conar", afirmou. Serão consideradas, entre as violações, uso de imagem não autorizada da primeira-dama Hillary Clinton e "invasão de privacidade". Pinto entende que o anúncio configura também desrespeito às instituições.
Não será a primeira vez que o Conar intervirá para sustar campanhas acusadas de agredir pessoas de outras nacionalidades.
Recentemente, o órgão -integrado por representantes de agências, anunciantes e veículos de comunicação- foi procurado pelo consulado da China para agir contra um anúncio de uma marca de aparelho de televisão que fazia referência interpretada como de inferioridade dos chineses em relação aos japoneses.

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